[27º Dia]
As aulas hoje foram tranquilas com reforço de leitura, escrita e correção de alguns exercícios, então para não ser repetitivo, ao invés de descrever o dia, decidi escrever um pouco sobre a observação de um aspecto do universo escola.
*
Depois de um feriadão de 4 dias devido a Copa a turma voltou bem agitada. Quando se enfrenta uma turma não se pode sempre ter a visão romântica de que você chegará na sala e os alunos te receberão com um "boa tarde!" caloroso ou um mero sorriso de concordância com a sua presença.
Não sei se eles tem dificuldade em demonstrar ou se não estão nem ai. Fico com a primeira opção. É preciso ter muita cautela na observação e nunca, jamais, levar pro lado pessoal críticas ou "caras feiras". Um aluno que passa quase 1 hora fazendo um exercício contigo do lado, pode, logo após o recreio, te olhar torto e, às vezes, até xingar. A conquista da confiança de uma turma é um trabalho de muita paciência, se já é assim com apenas uma pessoa, o que dirá com várias de todos os tipos.
Tento ver a relação que tenho com os professores na faculdade e emular para a relação que tenho com os alunos na escola. No começo, quando a aula no estágio acabava, eles saiam correndo da sala, nem um "tchau!" eu recebia ou quando passava por alguém na entrada, poucas vezes recebia um cumprimento, ficava meio frustrado e pensando aonde é que errei para não cativá-los o suficiente a ponto de falarem comigo naturalmente.
Depois fiquei pensando, "eu me despeso de todos os meus professores quando termino de assistir uma aula?" a resposta é não! Na verdade acho que raramente me despesso de algum, e isso não quer dizer que eu goste menos de uma aula ou de outra, só quer dizer que saio de uma aula já pensando na próxima ou na pressa de ir embora pro estágio. Mesma situação quando passo por um professor no corredor, às vezes fico sem graça de cumprimentá-lo, enquanto penso "falar ou não falar" ele já passou e quase sempre saio da última aula do dia meia hora antes dela terminar para ter tempo de almoçar antes de pegar a turma. Todos esses indícios poderiam levar um professor sensível a supor: "Dei aula para fulano o semestre inteiro, agora ele passa por mim e nem diz um 'oi'!" ou "poxa...minha aula está tão ruim que fulano precisou sair no meio?"
A verdade é que se enxerga o que se quer, não se pode ser muito radical e ver cada ato ou frase de um aluno como afronta ou desdém, nem também achar que sempre se é o dono supremo da razão e se os alunos não o aceitam, azar o deles. Nem tão ao céu nem tão a terra.
Alguns alunos são mais atenciosos e é perceptível que tentam suprir uma carência familiar com a figura do professor, já que em casa, muitas vezes, não têm uma imagem de autoridade, outros podem até ser carentes também, mas exteriorizam isso se definindo como independentes, não precisando de nada e ninguém, é o modo de defesa e de encarar o mundo que cada um conseguiu desenvolver.
Cabe ao bom educador reconhecer com sabedoria todos os sinais e todas as informações que o aluno traz, o melhor caminho para isso é realizar um trabalho consistente, planejado e sério, se não se pode agradar a todos, pelo menos deve-se tentar da melhor maneira possível.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
Da culpa pelo fracasso
[26º Dia] 24/06/2010 - "Tá acabaanoo! tá acabaano!!"
Cheguei um pouco atrasado (praticamente como todas as quartas) vi a professora, uma aluna e uma mulher na porta da sala de aula conversando. Passei em frente indo para o bebedouro, e também para verem que eu já tinha chegado, foi quando eu estava já no final do corredor a professora me chamou:
- Diego! Acho que seria bom você conversar com ela também!
- ?
- Essa é a mãe da fulana!
- !
Essa fulana é uma aluna bem encrenqueira que tinha sido suspensa das aulas por ser muito bagunceira e desbocada, disseram que ela só poderia assistir as aulas se estivesse na presença do responsável, isso foi a 2 semanas, responsável nenhum apareceu...até aquele momento.
Fiquei sabendo que a fulana mentiu pra mãe, dizendo que estava indo pra escola, quando na verdade ia para o morro do Pinto (morro próximo da Central do Brasil) matar aula com outro colega, que também está sumido.
A professora pediu minha opinião, disse então que seria curto e grosso, a mãe da menina me interrompeu então: "Ah, pode dizer! Ela é mal educada, folgada, respondona...." Então cortei-a : "Bom, fulana é uma menina muito inteligente, sabe da matéria, tá adiantada SÓ QUE às vezes é um pouco agitada demais, xinga muito e isso a atrapalha e a aula, mas se ela corrigir isso é MB (nota máxima) na certa. Lembrando que nesses casos, quando o responsável já sabe de todos os problemas do filho, ficar só criticando não ajuda, deve-se começar com elogios e ir apontando as dificuldades do aluno.
A mãe pediu várias desculpas por não ter aparecido antes, disse que realmente não sabia, que tinha mais 6 filhos (!), que trabalhava como faxineira, mas sempre priorizava a escola, que preferia faltar ao emprego que perder uma reunião de pais...deu pena daquela senhora! No final da conversa a professora voltou pra turma e eu fiquei mais uns minutos conversando com a responsável, disse que basicamente era isso, que não tinha muito mais o que dizer e a elogiei pelo interesse na vida estudantil da filha, que era de pais assim que a escola precisava, ou seja, sei que ela estava sabendo da gravidade da situação então pra não ficar uma situação muito desconfortável tentei ser direto, sem ser muito agressivo nas críticas.
Ai está uma situação complicada. Por um lado se culpa os professores pela falta de atenção dos alunos, pelo baixo rendimento, o professor é o bode expiatório de tudo de ruim que se passa na educação, o testa de ferro dos maus índices, das reprovações e evasões. Por outro lado julga-se os pais, por não darem educação aos filhos, por serem relapsos, não atenciosos, não passarem os valores básicos de ética e responsabilidade...E num caso dessses?
Quando os professores estão se esforçando ao máximo para ajudar aqueles alunos e vê-se uma mãe tão envergonhada pela situação ("ela sabe que tem que estudar! eu converso isso com ela, eu trabalho limpando mijo dos outros, é isso que ela quer da vida? Eu fico com vergonha de pegar os cadernos dela, porque só estudei até a 4ª série, mas sempre falo da importância dos estudos...não sabia que ela tava assim!") e que apesar de tudo tenta dar um mínimo para a filha, uma oportunidade que ela não teve.
Nunca culpa-se os alunos. Porque não estão plenos de suas responsabilidades? Por serem imaturos? Inocentes? Por precisarem de orientação? Então todos os atos são culpas de quem os cerca...os professores, os pais, as influências dos amigos (estes com a mesma idade), mas nunca é culpa do jovem, por quê?
Esse fato me pôs para pensar em como, às vezes, a culpa pelo fracasso de alguém é da própria pessoa e até que ponto esse fracasso pode e deve ser dividido pelos que a influenciam (ou influenciaram). Pessoas com estilos de vida idênticos podem nem sempre ter percursos semelhantes na vida, então fica claro, que seja aluno, cidadão, pais, irmãos, filhos, todos têm o livre arbítrio para ditar os rumos de sua vida, nem sempre as condições serão favoráveis e o esforço em alguns casos poderá sem bem maior que em outros, mas nunca poderá se culpar o destino ou "as circustâncias" pelo rumo de vida, no final das contas, a culpa pela vitória ou pelo fracasso é somente nossa.
Cheguei um pouco atrasado (praticamente como todas as quartas) vi a professora, uma aluna e uma mulher na porta da sala de aula conversando. Passei em frente indo para o bebedouro, e também para verem que eu já tinha chegado, foi quando eu estava já no final do corredor a professora me chamou:
- Diego! Acho que seria bom você conversar com ela também!
- ?
- Essa é a mãe da fulana!
- !
Essa fulana é uma aluna bem encrenqueira que tinha sido suspensa das aulas por ser muito bagunceira e desbocada, disseram que ela só poderia assistir as aulas se estivesse na presença do responsável, isso foi a 2 semanas, responsável nenhum apareceu...até aquele momento.
Fiquei sabendo que a fulana mentiu pra mãe, dizendo que estava indo pra escola, quando na verdade ia para o morro do Pinto (morro próximo da Central do Brasil) matar aula com outro colega, que também está sumido.
A professora pediu minha opinião, disse então que seria curto e grosso, a mãe da menina me interrompeu então: "Ah, pode dizer! Ela é mal educada, folgada, respondona...." Então cortei-a : "Bom, fulana é uma menina muito inteligente, sabe da matéria, tá adiantada SÓ QUE às vezes é um pouco agitada demais, xinga muito e isso a atrapalha e a aula, mas se ela corrigir isso é MB (nota máxima) na certa. Lembrando que nesses casos, quando o responsável já sabe de todos os problemas do filho, ficar só criticando não ajuda, deve-se começar com elogios e ir apontando as dificuldades do aluno.
A mãe pediu várias desculpas por não ter aparecido antes, disse que realmente não sabia, que tinha mais 6 filhos (!), que trabalhava como faxineira, mas sempre priorizava a escola, que preferia faltar ao emprego que perder uma reunião de pais...deu pena daquela senhora! No final da conversa a professora voltou pra turma e eu fiquei mais uns minutos conversando com a responsável, disse que basicamente era isso, que não tinha muito mais o que dizer e a elogiei pelo interesse na vida estudantil da filha, que era de pais assim que a escola precisava, ou seja, sei que ela estava sabendo da gravidade da situação então pra não ficar uma situação muito desconfortável tentei ser direto, sem ser muito agressivo nas críticas.
Ai está uma situação complicada. Por um lado se culpa os professores pela falta de atenção dos alunos, pelo baixo rendimento, o professor é o bode expiatório de tudo de ruim que se passa na educação, o testa de ferro dos maus índices, das reprovações e evasões. Por outro lado julga-se os pais, por não darem educação aos filhos, por serem relapsos, não atenciosos, não passarem os valores básicos de ética e responsabilidade...E num caso dessses?
Quando os professores estão se esforçando ao máximo para ajudar aqueles alunos e vê-se uma mãe tão envergonhada pela situação ("ela sabe que tem que estudar! eu converso isso com ela, eu trabalho limpando mijo dos outros, é isso que ela quer da vida? Eu fico com vergonha de pegar os cadernos dela, porque só estudei até a 4ª série, mas sempre falo da importância dos estudos...não sabia que ela tava assim!") e que apesar de tudo tenta dar um mínimo para a filha, uma oportunidade que ela não teve.
Nunca culpa-se os alunos. Porque não estão plenos de suas responsabilidades? Por serem imaturos? Inocentes? Por precisarem de orientação? Então todos os atos são culpas de quem os cerca...os professores, os pais, as influências dos amigos (estes com a mesma idade), mas nunca é culpa do jovem, por quê?
Esse fato me pôs para pensar em como, às vezes, a culpa pelo fracasso de alguém é da própria pessoa e até que ponto esse fracasso pode e deve ser dividido pelos que a influenciam (ou influenciaram). Pessoas com estilos de vida idênticos podem nem sempre ter percursos semelhantes na vida, então fica claro, que seja aluno, cidadão, pais, irmãos, filhos, todos têm o livre arbítrio para ditar os rumos de sua vida, nem sempre as condições serão favoráveis e o esforço em alguns casos poderá sem bem maior que em outros, mas nunca poderá se culpar o destino ou "as circustâncias" pelo rumo de vida, no final das contas, a culpa pela vitória ou pelo fracasso é somente nossa.
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sexta-feira, 25 de junho de 2010
Ultrapassando a mesa
[25º Dia] - 23/06/2010
A professora precisou ir a uma reunião e não poderia chegar a tempo, pediu então se eu poderia ficar com eles. Fiquei. Já com todas as neuras, preocupações e inseguranças que as últimas experiências com os alunos tinham me colocado, mas dessa vez foi bem diferente.
Como a aula iria só até o recreio e depois eles seriam liberados, consegui trabalhar alguns exercícios com menos correria. Comecei retomando a parte de matemática que tinha parado quando fiquei sozinho lá da última vez: multiplicação. Segui para contas de x3 e x4. A turma estava vazia, uns 12, alguns que me viram chegando, e ficaram sabendo que a professora não viria, fugiram, com os que ficaram fui calmamente apresentando as contas e os conceitos das contas de multiplicação corretamente, embora isso já tenha sido dito antes, eles esquecem tudo muito rápido, alguns ainda sem confundem com multiplicação de x0 ou x1...foi preciso retomar muita coisa e incluir novidade. Enchi o quadro, todos copiaram em silêncio (!) e conforme as dúvidas iam aparecendo, ia de mesa em mesa ajudando, depois, quando todos já tinham feito, segui o esquema de correção, perguntando quem gostaria de ir no quadro resolver a questão, e como da última vez eles se empolgaram:
- Eu fico com a letra A !!! Eu com a J !!!! Eu quero a letra B !!! Não, não, a letra B é minha, eu pedi primeiro!! E daí?! Eu que vou fazer!! Euu! Zerim ou um então! Ganhei!! Eu faço! Você roubou!! Ahhh!
Depois da bagunça decidi que cada um iria ao quadro, faria a questão e a próxima, caso mais de um quisesse fazer, seria decidida no par ou ímpar. Que absurdo! Eles se empurrando pra serem os primeiros a fazer um dever...fenômenos de sala de aula.
Quando acertavam, eu colocava um sinal de visto e o nome de quem fez em cima da conta, dessa forma valorizava o acerto, o expondo pra turma, isso faz bem pra deles, de modo que lá pro final tinha aluno perguntando:
- Acertei professor??
- Acertou!
- Deixa que eu coloco meu nome na conta então!! (E tascava uma assinatura muito peculiar)
Depois da matemática fomos pro português, português disfarçado é claro. Nada de texto no quadro pra copiarem, nem apostila, não tenho segurança ainda com esses instrumentos, prefiro ir pro outro caminho. Dessa vez levei várias bandeiras em preto e branco de países que estão na copa de futebol, a primeira tarefa era cada um pintar a bandeira, dei preferência para bandeiras não tão populares (Costa do Marfim, República do Gana, Coréia do Norte, Argélia...) e escrevi de lápis qual era a cor de cada parte, então para pintarem corretamente teriam que ler corretamente! Depois deveriam escrever duas frases relacionadas a futebol ou ao país que receberam abaixo da pintura que fizeram. Dessa forma eles tiveram que exercitar o conhecimento que tinham. Ex:
- Professor!!! Aqui é que cor?
- Tá escrito! Qual a primeira letra?
- V !
- Então, tem alguma cor que começa com V?
- (pensando...) Verde?
- (alguém de fora do diálogo grita) Vermelho também!!
- Então, qual a segunda letra? E a terceira? Lê com calma uma letra de cada vez que você descobre a cor
- V...E...R....
- Até ai as duas cores são iguais...qual a próxima?
E assim ia, eles tentando ler e eu ajudando só o necessário, pra que desenvolvessem suas ferramentas de leitura de forma própria, sem apenas repetir.A maioria conseguiu, alguns, é bem verdade, apenas copiaram do colega, outros não quiseram e ficaram andando pela sala. Fiz o que pude. O saldo geral foi positivo!
Disse que depois montaria um cartaz com todas as bandeiras e frases que fizeram e colocaria em algum corredor da escola, ficaram vaidosos. Como são uma turma fora da grade regular, ou seja, deveriam estar no 6º ano, mas estão no primeiro andar sendo alfabetizados, qualquer trabalho que os mostre para o resto dos estudantes é importante.
Depois do intervalo foram liberados, pegaram suas carteirinhas e foram pra casa. Quando eu estava indo embora 2 alunas me pararam:
- Ahh! Eu não quero ir embora, professor! Passa dever pra gente!
- ?!
- Fulana, o diretor disse que vocês podem ir!
- O senhor precisa ir embora? Não pode ficar?
- .....(what?!?!).....Claro! Eu fico com vocês mais meia-hora, ok? (após o recreio eles tem mais 1h de aula antes de ir embora)
Esse diálogo é ainda mais inusitado porque dele participou também aquela aluna que me criticou semanas atrás. Lembra? Que disse que eu era chato, que preferia a professora, etc...
Então, pedi pra que escolhessem um livro que iríamos ler juntos, nisso apareceu um aluno que também quis ficar. Éramos 4.
Fiquei na sala então com os três sentados a minha volta e o livro no meio, sobre a mesa, com cada um lendo uma página. Era um livro simples, com no máximo 3 frases por página e muitas ilustrações, entretanto para eles que até o começo do ano eram analfabetos terminar aquela leitura era uma grande conquista.
Foram lendo, entre alguns tropeços e caras de frustração por não entenderem um "NH" ou "SS" , que prontamente explicava como se pronunciava, foram ficando mais confiantes lá pro meio já liam página inteira sem interrupção. Foi um dos momentos mais incríveis, tanto pela evolução deles, que to acompanhando de perto, quanto por aquela aluna raivosa que preferiu ficar ali lendo comigo! Passado uns 40 min. disse que precisava ir, eles se despediram e foram.
No primeiro post disse que seria uma vitória se pudesse subir na mesa sem ser encarado como maluco, naquela referência ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, então faltando 5 dias pra fechar minhas anotações aqui, digo que esse dia, aquele instante, com certeza, ultrapassou a mesa.
Alguns já estão se levantado, percebendo sua realidade e se esforçando pra melhorar. Até o final do ano espero ver todos de pé!
A professora precisou ir a uma reunião e não poderia chegar a tempo, pediu então se eu poderia ficar com eles. Fiquei. Já com todas as neuras, preocupações e inseguranças que as últimas experiências com os alunos tinham me colocado, mas dessa vez foi bem diferente.
Como a aula iria só até o recreio e depois eles seriam liberados, consegui trabalhar alguns exercícios com menos correria. Comecei retomando a parte de matemática que tinha parado quando fiquei sozinho lá da última vez: multiplicação. Segui para contas de x3 e x4. A turma estava vazia, uns 12, alguns que me viram chegando, e ficaram sabendo que a professora não viria, fugiram, com os que ficaram fui calmamente apresentando as contas e os conceitos das contas de multiplicação corretamente, embora isso já tenha sido dito antes, eles esquecem tudo muito rápido, alguns ainda sem confundem com multiplicação de x0 ou x1...foi preciso retomar muita coisa e incluir novidade. Enchi o quadro, todos copiaram em silêncio (!) e conforme as dúvidas iam aparecendo, ia de mesa em mesa ajudando, depois, quando todos já tinham feito, segui o esquema de correção, perguntando quem gostaria de ir no quadro resolver a questão, e como da última vez eles se empolgaram:
- Eu fico com a letra A !!! Eu com a J !!!! Eu quero a letra B !!! Não, não, a letra B é minha, eu pedi primeiro!! E daí?! Eu que vou fazer!! Euu! Zerim ou um então! Ganhei!! Eu faço! Você roubou!! Ahhh!
Depois da bagunça decidi que cada um iria ao quadro, faria a questão e a próxima, caso mais de um quisesse fazer, seria decidida no par ou ímpar. Que absurdo! Eles se empurrando pra serem os primeiros a fazer um dever...fenômenos de sala de aula.
Quando acertavam, eu colocava um sinal de visto e o nome de quem fez em cima da conta, dessa forma valorizava o acerto, o expondo pra turma, isso faz bem pra deles, de modo que lá pro final tinha aluno perguntando:
- Acertei professor??
- Acertou!
- Deixa que eu coloco meu nome na conta então!! (E tascava uma assinatura muito peculiar)
Depois da matemática fomos pro português, português disfarçado é claro. Nada de texto no quadro pra copiarem, nem apostila, não tenho segurança ainda com esses instrumentos, prefiro ir pro outro caminho. Dessa vez levei várias bandeiras em preto e branco de países que estão na copa de futebol, a primeira tarefa era cada um pintar a bandeira, dei preferência para bandeiras não tão populares (Costa do Marfim, República do Gana, Coréia do Norte, Argélia...) e escrevi de lápis qual era a cor de cada parte, então para pintarem corretamente teriam que ler corretamente! Depois deveriam escrever duas frases relacionadas a futebol ou ao país que receberam abaixo da pintura que fizeram. Dessa forma eles tiveram que exercitar o conhecimento que tinham. Ex:
- Professor!!! Aqui é que cor?
- Tá escrito! Qual a primeira letra?
- V !
- Então, tem alguma cor que começa com V?
- (pensando...) Verde?
- (alguém de fora do diálogo grita) Vermelho também!!
- Então, qual a segunda letra? E a terceira? Lê com calma uma letra de cada vez que você descobre a cor
- V...E...R....
- Até ai as duas cores são iguais...qual a próxima?
E assim ia, eles tentando ler e eu ajudando só o necessário, pra que desenvolvessem suas ferramentas de leitura de forma própria, sem apenas repetir.A maioria conseguiu, alguns, é bem verdade, apenas copiaram do colega, outros não quiseram e ficaram andando pela sala. Fiz o que pude. O saldo geral foi positivo!
Disse que depois montaria um cartaz com todas as bandeiras e frases que fizeram e colocaria em algum corredor da escola, ficaram vaidosos. Como são uma turma fora da grade regular, ou seja, deveriam estar no 6º ano, mas estão no primeiro andar sendo alfabetizados, qualquer trabalho que os mostre para o resto dos estudantes é importante.
Depois do intervalo foram liberados, pegaram suas carteirinhas e foram pra casa. Quando eu estava indo embora 2 alunas me pararam:
- Ahh! Eu não quero ir embora, professor! Passa dever pra gente!
- ?!
- Fulana, o diretor disse que vocês podem ir!
- O senhor precisa ir embora? Não pode ficar?
- .....(what?!?!).....Claro! Eu fico com vocês mais meia-hora, ok? (após o recreio eles tem mais 1h de aula antes de ir embora)
Esse diálogo é ainda mais inusitado porque dele participou também aquela aluna que me criticou semanas atrás. Lembra? Que disse que eu era chato, que preferia a professora, etc...
Então, pedi pra que escolhessem um livro que iríamos ler juntos, nisso apareceu um aluno que também quis ficar. Éramos 4.
Fiquei na sala então com os três sentados a minha volta e o livro no meio, sobre a mesa, com cada um lendo uma página. Era um livro simples, com no máximo 3 frases por página e muitas ilustrações, entretanto para eles que até o começo do ano eram analfabetos terminar aquela leitura era uma grande conquista.
Foram lendo, entre alguns tropeços e caras de frustração por não entenderem um "NH" ou "SS" , que prontamente explicava como se pronunciava, foram ficando mais confiantes lá pro meio já liam página inteira sem interrupção. Foi um dos momentos mais incríveis, tanto pela evolução deles, que to acompanhando de perto, quanto por aquela aluna raivosa que preferiu ficar ali lendo comigo! Passado uns 40 min. disse que precisava ir, eles se despediram e foram.
No primeiro post disse que seria uma vitória se pudesse subir na mesa sem ser encarado como maluco, naquela referência ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, então faltando 5 dias pra fechar minhas anotações aqui, digo que esse dia, aquele instante, com certeza, ultrapassou a mesa.
Alguns já estão se levantado, percebendo sua realidade e se esforçando pra melhorar. Até o final do ano espero ver todos de pé!
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
Se usa o que se aprende?
[24º Dia]
A turma estava vazia no começo do dia, foi distribuído para cada um uma folha com um 3 desenhos em preto e branco do Gian Calvi e um espaço em baixo, a proposta era para pensarem em frases que representassem cada imagem e depois pintar.
Essas atividades de colorir, desenhar, recortar, colar, assistir filmes e ouvir músicas podem, à primeira vista, parecer infantis para uma turma de adolescentes, mas se os exercícios não forem intermeados por situações lúdicas, os alunos acabam ficando desinteressados, então nesses momentos eles relaxam um pouco e acabam assimilando o conteúdo com mais facilidade. É claro que sempre tem os do contra que nunca estão satisfeitos com nada, reclamam quando tem muita coisa pra copiar no quadro e reclamam quando os deveres são mais leves, mas até esses, depois de um pouco de pirraça, acabam embarcando e fazendo o que foi pedido.
Quando terminaram essa primeira parte a professora distribuiu folha de exercícios sobre palavras com CH e X, em que várias palavras deveriam ser completadas e depois conferidas na correção e também uma folha com frases onde o F e o V estavam faltando, o aluno então deveria completá-las, essas dúvidas são muito comuns entre eles e achei muito importante a professora reforçar certos dados primários, mas que hora e meia confundem alguns.
Na faculdade aprende-se que F e V são fonemas fricativos labiodentais, esse tipo de informação vale para os pesquisadores (é isso que a faculdade forma, não é?) mas para um professor é mera curiosidade linguística, na prática, numa sala de aula, o que interessa é que os alunos confundem essas letras e deve-se a todo tempo reforçar com exercícios, através de leitura e escrita o modo correto de produção. Vogal média-alta posterior? Não é " Ô ". Oclusiva alveolar sonora? É "D". O tempo vai passando e até agora tenho notado a disparidade entre a teoria do ensino superior e a prática da profissão, é interessante conhecer os meandros do idioma, essencial diria, mas no fim das contas é como ouvi várias vezes: a faculdade é só um caminho obrigatório, como, quando e o quê fazer, só se aprende na prática...e assim tem sido!
A turma estava vazia no começo do dia, foi distribuído para cada um uma folha com um 3 desenhos em preto e branco do Gian Calvi e um espaço em baixo, a proposta era para pensarem em frases que representassem cada imagem e depois pintar.
Essas atividades de colorir, desenhar, recortar, colar, assistir filmes e ouvir músicas podem, à primeira vista, parecer infantis para uma turma de adolescentes, mas se os exercícios não forem intermeados por situações lúdicas, os alunos acabam ficando desinteressados, então nesses momentos eles relaxam um pouco e acabam assimilando o conteúdo com mais facilidade. É claro que sempre tem os do contra que nunca estão satisfeitos com nada, reclamam quando tem muita coisa pra copiar no quadro e reclamam quando os deveres são mais leves, mas até esses, depois de um pouco de pirraça, acabam embarcando e fazendo o que foi pedido.
Quando terminaram essa primeira parte a professora distribuiu folha de exercícios sobre palavras com CH e X, em que várias palavras deveriam ser completadas e depois conferidas na correção e também uma folha com frases onde o F e o V estavam faltando, o aluno então deveria completá-las, essas dúvidas são muito comuns entre eles e achei muito importante a professora reforçar certos dados primários, mas que hora e meia confundem alguns.
Na faculdade aprende-se que F e V são fonemas fricativos labiodentais, esse tipo de informação vale para os pesquisadores (é isso que a faculdade forma, não é?) mas para um professor é mera curiosidade linguística, na prática, numa sala de aula, o que interessa é que os alunos confundem essas letras e deve-se a todo tempo reforçar com exercícios, através de leitura e escrita o modo correto de produção. Vogal média-alta posterior? Não é " Ô ". Oclusiva alveolar sonora? É "D". O tempo vai passando e até agora tenho notado a disparidade entre a teoria do ensino superior e a prática da profissão, é interessante conhecer os meandros do idioma, essencial diria, mas no fim das contas é como ouvi várias vezes: a faculdade é só um caminho obrigatório, como, quando e o quê fazer, só se aprende na prática...e assim tem sido!
domingo, 20 de junho de 2010
Visita a exposição de Gian Calvi
[23º Dia] - 18/06/2010
Dia de passeio! A professora levou os alunos até a exposição do ilustrador Gian Calvin no Centro Cultural dos Correios. Dos 25, apenas 12 foram, alguns simplesmente não apareceram e outros não tinham a autorização do responsável pra ir, as 13:30 saimos: a professora na frente guiando-os, a turma no meio e eu no fim da fila vendo se ninguém sairia do caminho ou fugiria.
O percurso foi tranquilo, em cerca de 10 minutos chegamos à exposição, lá uma guia fez a apresenação do local e foi passando informações sobre o artista e sua obra. Por incrível que pareça eles ficaram quietos, sem fazer nenhuma bagunça e, acredite ou não, até tímidos. Não sei se era o ambiente diferente que reprimiu a agitação costumeira ou se o fato dos mais agitados não terem ido, seja como for, a turma gostou, participou e se manteve na maior calmaria até o retorno, quando a professora distribuiu pacotinhos de biscoito pra todos (também ganhei um!) e assim voltamos.No caminho fui conversando com os meninos da turma que estavam mais pro final da fila. Foi papo sobre videogame, eles ficaram meio surpresos de ver o "professor" conhecendo tanto de nintendo e playstantion, embora precise ter certa postura, é bom, às vezes, conversar com eles sobre coisas que fogem do tema escolar, acho que isso os ajuda a me enxergar não como um "adulto" que está ali pra dar ordens, mas como alguém que os entende e quer ajudá-los, certas pessoas acham que esse comportamento pode dar muita liberdade e dificultar a imposição de respeito, porém é importante saber que respeito não se impõe, se conquista.
[Retificando] Sobre o caso da explosão no pátio do último post, soube que o aluno não foi expulso, mas informado que só entrará no colégio com a presença dos responsáveis para uma conversa com o diretor. Menos mal.
[Retificando] Sobre o caso da explosão no pátio do último post, soube que o aluno não foi expulso, mas informado que só entrará no colégio com a presença dos responsáveis para uma conversa com o diretor. Menos mal.
Poster da exposição de Gian Calvi
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quinta-feira, 17 de junho de 2010
Uma bomba e uma expulsão
Falta pouco mais de 1 mês pro fim desse período na faculdade e a rotina de provas e trabalhos tá aumentando, é complicado conciliar vida acadêmica e profissional, ainda mais quando ambas exigem um alto grau de dedicação, então as atualizações estão capengas por aqui, mas estão indo.
Foi ontem e não sei se pelo cansaço ou pela ausência de algo interessante, mas não me lembro de coisa alguma que valha a pena descrever. Hoje teve.
[22º Dia] - Hoje
Cheguei um pouco cedo, mas a professora já estava lá, arrumando o material dos alunos, aos poucos eles foram chegando e o caos (o bom e velho de sempre!) se instaurou. O primeiro exercício era escolher um poema, dentre os muitos que tinham nos livros sobre a mesa e copiar numa folha, desenhando ao lado algo que o representasse, depois a professora iria montar um cartaz com os trabalhos. Durante o dever, chegou na sala uma "fiscal" do Projeto Vitória (nome genérico do projeto em que essa turma de alfabetização tá inserida), ela conversou com a professora e foi para o final da sala avaliar a turma, cada aluno ia até ela e lia um trecho de um texto. Ninguém se comportou, mesmo com uma "visita" na sala, a professora ficou chateada e conversou sério com a turma ao final.
Incrível como alguns, sempre os que mais precisam, continuam ignorando a importância de se dedicar aos estudos, eu já aprendi a não tomar pra mim problemas que não são meus, ajudo-os o máximo que posso, mas os que não querem, ou acham que não precisam, não insisto mais como antes, porque no final das contas posso dar menos atenção pra alguém que tá interessado por culpa de alguém que tá ali só pra passar o tempo. É triste saber que muitos não passarão de autônomos com baixo estudo em serviços mal remunerados, mas a informação e a ajuda estão ao alcance de todos naquela sala, o que faz com que uns percebam isso e agarrem a oportunidade, enquanto outros a deixam passar é algo que ainda foge meu conhecimento e embora incomode, não mais pertuba.
No intervalo ouvimos da sala sala dos professores um barulho de explosão que parecia ser do pátio, lembrei que vi um aluno com uma caixa de fósforos e uma bombinha na aula e pedi pra ele guardar aquilo, que se a professora pegasse ia dar problema. Outra explosão! Nessa segunda o diretor desceu e pegou o tal aluno.
Os colegas tentaram defendê-lo, dizendo que não tinha sido ele e que tava sendo acusado injustamente, de qualquer forma o aluno acabou sendo expulso. Quando voltou pra pegar o material e ir embora ameaçou "o x9 que gaguetou" de morte (eles sempre ameaçam algo ou alguém de morte). Seja como for, levar bomba e fósforo para a escola não é sinal de boa intenção e ele deu mole porque já o tinha avisado pra guardar, como sempre aviso quando os pego com celular (que segundo uma lei, pode ser confiscado pela professora e só devolvido para o responsável), dessa vez a consequência foi ruim, mas poderia ter sido pior se por acaso aquela bomba tivesse ferido alguém.
Os alunos que ficaram fizeram a montagem de um livro com folhas de exercícios que tinha feito no começo do ano. Muita tesoura, papel picado, cola e bagunça, todos concluíram e depois de copiar um texto de ciências, liberados.
Amanhã irão visitar o centro cultural dos Correios, boa oportunidade pra ver como se comportam fora do habitar escolar. Será a mesma zona? Por via das dúvidas levarei uma espingarda e chumbo!
Reprodução do momento que a bomba explodiu no pátio do colégio. O terreno escolar pode ser bem instável.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Uma ou duas frustrações
[19º dia] - 11/06/2010
Dia de filme. A professora passou Indiana Jones Os alunos embora inacreditavelmente não soubessem de que se tratava, gostaram da história, é o típico filme "sessão da tarde" que ainda funciona. Nesse meio tempo ela teve que sair para conversar com uma professora itinerante apareceu. Professores itinerantes, pelo que eu percebi, são "fiscais" com cara de estagiários, que vão de turma em turma num período de mais ou menos 15 dias pra ver como as aulas estão correndo e gerar um relatório sobre isso. Acho meio desconfortável para um professor ter alguém ali para avaliá-lo, mas entendo que isso pode ser útil em algumas situações porque como em todo lugar há sempre ótimos funcionários e também os péssimos e com algo tão sério como a educação é preciso ter atenção, isso é claro, se os tais itinerantes tiverem todas as informações da dinâmica de uma sala de aula e não fiquem só fazendo anotações ignorantes e descabidas.
Depois do filme foi proposto para que fizessem frases com palavras chaves que representassem o filme. É sempre bom incentivá-los a escrever, escrever e escrever, mesmo que errem o importante aqui é o esforço em tentar aprender e não a mera cópia, alguns reclamam (do que não reclama?), mas acabam fazendo.
O dia foi tranquilo, proximidades com finais de semana e feriadões quase sempre são tranquilos.
[20º Dia] - 14/06/2010
Essa segunda eles estavam muito agitados, gritando, xingando, dando socos e pontapés pra todo lado. A aula começou com a apostila da poesias, leram alguns textos e tiveram que achar palavras relacionadas com um determinado tema e depois com essas palavras criar um poema. Na verdade a criação do poema era o menos importante, o que valia mesmo era tentar escrever sozinho, pensar sozinho. Muito difícil! A velha timidez sem motivo, ou melhor, com motivo desconhecido.
A frustração vem às vezes em porradas. Numa situação fiquei com 2 alunos durante um bom tempo, tentando pensar com eles, sempre tentando aproveitar algo que diziam e eles sempre monossilábicos. Demorou, mas de 10 palavras que tinham que pensar e escrever relacionadas com um tema proposto (amor, por exemplo) conseguimos fazer 8. Segue o diálogo:
- Então! Vamos lá, pensem uma palavras que tem a ver com "amor"...qualquer coisa, podem falar sem medo, que depois a gente vê junto como ela é escrita, mas primeiro vamos pensar na palavra.
- .... (minutos em silêncio)
- Então?
- ....
- Quando vocês pensam em "amor" o que vem a cabeça? Uhn?
- .... (continuam em silêncio, se olhando e depois olhando pra mim. Passam uns minutos)
- Bom, vou começar então! Coração? Pode ser? Como vocês acham que se escreve "coração". Qual a primeira letra?
- ... (silêncio)
E era assim! Sei que deve ter alguma técnica pedagógica, de ensino, com uma nomeclatura bem bonita que poderia me ajudar, mas é preciso ter ciência que to aprendendo tudo na hora, e que se algo dá certo, é na tentativa e erro, não cursei ainda nenhuma matéria de prática de ensino, de metodologia de whatever, nada!
O que me ajuda, de vez em quando, é o curso de alfabetizador que fiz no começo do ano.
Era um curso na própria faculdade, oferecido durante as férias, com foco em educação de jovens e adultos (EJA), porém como bem aprendi não existe fórmula pronta! A distância entre teoria e prática é gigantesca, (quase como a distância entre o ensino para crianças/jovens e ensino para adultos) é bom ter alguma base teórica, alguns conceitos, mas na hora do vamos ver, é o jogo de cintura e a rapidez de pensamento que te salvam de ser engolido por uma turma.
Naquele caso eu queria que eles pensassem sozinhos, sem pressão, e nisso iam os minutos, no final vi que precisava começar porque senão nada sairia dali e mesmo assim depois de um tempão com os dois, quando só faltava duas palavras pra acabarem, eu disse "muito bom! vocês chegaram até aqui, agora eu vou ajudar fulano e vocês façam sozinhos só essas duas últimas e daqui a pouco eu volto pra ver como está indo, ok?"
Foi só eu me ausentar por 5 minutos, quando voltei vi que tinham copiado de um colega o final. Fiquei muito puto.
- Poxa!! Eu fiz o exercício quase inteiro com vocês!! Foram tão bem, é só eu sair que colam o resultado??
- Eu não colei não! Fiz sozinho!! (a palavra que escreveram foi "irmão")
- Vocês dois estão me dizendo que pensaram nessa palavra sozinhos e escreveram, é isso? Certeza?
- Claro, professor!!!
- Ok! (peguei as apostilas dele e fechei) Como se escreve "irmã" ?
- ....
- Ué! Se escreveram "irmão" sozinho, deveriam saber como é irmã! Como começa "irmão" então?
- ... (continuam em silêncio, devolvo as apostilas para conferirem)
- Leiam agora o que escreveram, como se escreve "irmão"
- R...I...S ?
Eu sabia que não tinham feito. Tanto é que eu coloquei a palavra na frente deles, era só olhar e soletrar e não conseguiram. Sei que eles têm dificuldade de reconhecer letras, por isso dei tanta atenção no começo, mas ver que não reconhecem a própria deficiência que tem, que precisam se esforçar e ver que é tanta cara de pau a ponto de copiar a resposta só pra "acabar rápido" me chateia, um tempo que perdi ali e poderia ter ajudado outros eu sei que são esforçados. Sempre é muito frustrante ver seu esforço não dar em nada, dessa vez foi exatamente assim.
Depois ainda teve um aluno que ficou irritado porque pedi que ele tirasse o fone de ouvido e prestasse atenção. Deu um ataque, disse que eu tava sendo muito folgado, e ficou resmungando até o final do dia.
Eles não devem ter nenhuma figura de autoridade em casa, ninguém deve questioná-los ou impor nada e se o fazem deve ser com palavrões e gritos, ouvir então um pedido de forma séria, mas calma os incomoda. Estranho. Lembrando que esse aluno do fone é o mesmo que leu junto com uma aluna um livro comigo dias atrás, ou seja, motivo pessoal para essa rebeldia não havia, sempre o ajudei e ele sempre foi tranquilo comigo, de repente isso! Vai entender!Mais alguns textos, interpretações e exercícios antes do fim da aula.
Hoje foi ponto facultativo por causa do jogo do braZZil e amanhã recomeça a rotina, faltam 10 dias pro fim desse blog, a proposta era fechar 30 dias úteis desde início e com alguns tropeços to conseguindo concluir, alguns leem, quase ninguém comenta, mas é isso ai, era pra ser um projeto pessoal de registro e assim tem sido, até a próxima, caro leitor fantasma! ;-)
Dia de filme. A professora passou Indiana Jones Os alunos embora inacreditavelmente não soubessem de que se tratava, gostaram da história, é o típico filme "sessão da tarde" que ainda funciona. Nesse meio tempo ela teve que sair para conversar com uma professora itinerante apareceu. Professores itinerantes, pelo que eu percebi, são "fiscais" com cara de estagiários, que vão de turma em turma num período de mais ou menos 15 dias pra ver como as aulas estão correndo e gerar um relatório sobre isso. Acho meio desconfortável para um professor ter alguém ali para avaliá-lo, mas entendo que isso pode ser útil em algumas situações porque como em todo lugar há sempre ótimos funcionários e também os péssimos e com algo tão sério como a educação é preciso ter atenção, isso é claro, se os tais itinerantes tiverem todas as informações da dinâmica de uma sala de aula e não fiquem só fazendo anotações ignorantes e descabidas.
Depois do filme foi proposto para que fizessem frases com palavras chaves que representassem o filme. É sempre bom incentivá-los a escrever, escrever e escrever, mesmo que errem o importante aqui é o esforço em tentar aprender e não a mera cópia, alguns reclamam (do que não reclama?), mas acabam fazendo.
O dia foi tranquilo, proximidades com finais de semana e feriadões quase sempre são tranquilos.
[20º Dia] - 14/06/2010
Essa segunda eles estavam muito agitados, gritando, xingando, dando socos e pontapés pra todo lado. A aula começou com a apostila da poesias, leram alguns textos e tiveram que achar palavras relacionadas com um determinado tema e depois com essas palavras criar um poema. Na verdade a criação do poema era o menos importante, o que valia mesmo era tentar escrever sozinho, pensar sozinho. Muito difícil! A velha timidez sem motivo, ou melhor, com motivo desconhecido.
A frustração vem às vezes em porradas. Numa situação fiquei com 2 alunos durante um bom tempo, tentando pensar com eles, sempre tentando aproveitar algo que diziam e eles sempre monossilábicos. Demorou, mas de 10 palavras que tinham que pensar e escrever relacionadas com um tema proposto (amor, por exemplo) conseguimos fazer 8. Segue o diálogo:
- Então! Vamos lá, pensem uma palavras que tem a ver com "amor"...qualquer coisa, podem falar sem medo, que depois a gente vê junto como ela é escrita, mas primeiro vamos pensar na palavra.
- .... (minutos em silêncio)
- Então?
- ....
- Quando vocês pensam em "amor" o que vem a cabeça? Uhn?
- .... (continuam em silêncio, se olhando e depois olhando pra mim. Passam uns minutos)
- Bom, vou começar então! Coração? Pode ser? Como vocês acham que se escreve "coração". Qual a primeira letra?
- ... (silêncio)
E era assim! Sei que deve ter alguma técnica pedagógica, de ensino, com uma nomeclatura bem bonita que poderia me ajudar, mas é preciso ter ciência que to aprendendo tudo na hora, e que se algo dá certo, é na tentativa e erro, não cursei ainda nenhuma matéria de prática de ensino, de metodologia de whatever, nada!
O que me ajuda, de vez em quando, é o curso de alfabetizador que fiz no começo do ano.
Era um curso na própria faculdade, oferecido durante as férias, com foco em educação de jovens e adultos (EJA), porém como bem aprendi não existe fórmula pronta! A distância entre teoria e prática é gigantesca, (quase como a distância entre o ensino para crianças/jovens e ensino para adultos) é bom ter alguma base teórica, alguns conceitos, mas na hora do vamos ver, é o jogo de cintura e a rapidez de pensamento que te salvam de ser engolido por uma turma.
Naquele caso eu queria que eles pensassem sozinhos, sem pressão, e nisso iam os minutos, no final vi que precisava começar porque senão nada sairia dali e mesmo assim depois de um tempão com os dois, quando só faltava duas palavras pra acabarem, eu disse "muito bom! vocês chegaram até aqui, agora eu vou ajudar fulano e vocês façam sozinhos só essas duas últimas e daqui a pouco eu volto pra ver como está indo, ok?"
Foi só eu me ausentar por 5 minutos, quando voltei vi que tinham copiado de um colega o final. Fiquei muito puto.
- Poxa!! Eu fiz o exercício quase inteiro com vocês!! Foram tão bem, é só eu sair que colam o resultado??
- Eu não colei não! Fiz sozinho!! (a palavra que escreveram foi "irmão")
- Vocês dois estão me dizendo que pensaram nessa palavra sozinhos e escreveram, é isso? Certeza?
- Claro, professor!!!
- Ok! (peguei as apostilas dele e fechei) Como se escreve "irmã" ?
- ....
- Ué! Se escreveram "irmão" sozinho, deveriam saber como é irmã! Como começa "irmão" então?
- ... (continuam em silêncio, devolvo as apostilas para conferirem)
- Leiam agora o que escreveram, como se escreve "irmão"
- R...I...S ?
Eu sabia que não tinham feito. Tanto é que eu coloquei a palavra na frente deles, era só olhar e soletrar e não conseguiram. Sei que eles têm dificuldade de reconhecer letras, por isso dei tanta atenção no começo, mas ver que não reconhecem a própria deficiência que tem, que precisam se esforçar e ver que é tanta cara de pau a ponto de copiar a resposta só pra "acabar rápido" me chateia, um tempo que perdi ali e poderia ter ajudado outros eu sei que são esforçados. Sempre é muito frustrante ver seu esforço não dar em nada, dessa vez foi exatamente assim.
Depois ainda teve um aluno que ficou irritado porque pedi que ele tirasse o fone de ouvido e prestasse atenção. Deu um ataque, disse que eu tava sendo muito folgado, e ficou resmungando até o final do dia.
Eles não devem ter nenhuma figura de autoridade em casa, ninguém deve questioná-los ou impor nada e se o fazem deve ser com palavrões e gritos, ouvir então um pedido de forma séria, mas calma os incomoda. Estranho. Lembrando que esse aluno do fone é o mesmo que leu junto com uma aluna um livro comigo dias atrás, ou seja, motivo pessoal para essa rebeldia não havia, sempre o ajudei e ele sempre foi tranquilo comigo, de repente isso! Vai entender!Mais alguns textos, interpretações e exercícios antes do fim da aula.
Hoje foi ponto facultativo por causa do jogo do braZZil e amanhã recomeça a rotina, faltam 10 dias pro fim desse blog, a proposta era fechar 30 dias úteis desde início e com alguns tropeços to conseguindo concluir, alguns leem, quase ninguém comenta, mas é isso ai, era pra ser um projeto pessoal de registro e assim tem sido, até a próxima, caro leitor fantasma! ;-)
quinta-feira, 10 de junho de 2010
A copa
[18º Dia]
O falso patriotismo nas ruas, as vuvuzelas estalando o timpano, muitos comentários embasados de Fátima Bernardes e recessos descabiveis, enfim a copa do mundo começou!
Na escola a professora pediu para que cada um escrevesse uma carta pra alguém, da forma que soubesse e quisesse. Um fez um convite para o batizado de um filho imaginário (?), fizeram cartas de amor, bilhetes para mãe e escritos de todo tipo, fiquei então nesse primeiro tempo ajudando aqueles com mais dificuldade para articular ideias. O engraçado é ver a teimosia deles, quando pergunto "então, vai escrever pra quem? sobre o que?", dizem "não sei! não sei!", então eu repito a mesma pergunta , em tons diferente de voz e acabam por responder e começar o exercício. O grande desafio não é perceberem o dever, é saberem que sabem o dever, mas só estão com preguiça de se esforçar o bastante. Durante o dia foi assim, sempre repetindo e repetindo a pergunta até extrair o que o tempo todo já sabiam. Algumas vezes ocorre algo parecido com isso:
- Professoorr!!! Como se escreve "casa" ?- Ouve só CA-SA. Como se faz o som do CA?
- C mais A
-Muito bom! E o SA?
- S mais A ?!
- isso!! Junta tudo agora!- Aaah tá!!! Valeu professor!
- :-)
Apenas respondi as perguntas com outras perguntas, a resposta no fundo já sabiam.
Depois foi a abertura da copa do mundo, para não dispesa-los cedo, a professora ligou a tv da sala para assistirem ali mesmo. Viram, comentaram, cantaram juntos algumas músicas e depois quando começaram a ficar agitados de novo, ela desligou e passou um texto para copiarem. O dia correu bem e pelo visto eles não terão aula nos dias de jogo do Brasil. E dá-lhe mais feriados! E viva o nosso paíZ !!
Preciso dizer que odeio muito tudo isso?
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Atualizações rasteiras
Como me comprometi a atualizar esse espaço initerruptamente até fechar o 30º dia, às vezes é incomodo deixar passar um dia e não escrever nada. Não que alguém vá perceber, porque embora o Google Analytics diga que o blog tá sendo lido regularmente por um certo número de anônimos, a falta de comentários me estimula a ser preguiçoso com os relatos. Vamos lá:
O retorno após o mega feriadão. Os alunos estavam preguiçosos, muitos reclamando (sempre) do excesso de dever. A professora começou distribuindo um envelope com letras para que formassem palavras e colassem no caderno. Esses envelopes foram usados a quase um mês, e embora pouca, mas já consegui perceber alguma evolução, ou melhor, uma perda do "medo de errar" de alguns, estão ficando mais confiantes e isso é muito bom, porém se deixar por alguns segundos de estimulá-los, incentivá-los, voltam ao estado de baixa autoestima e agitação, é um processo persuasivo, mas que está se mostrando efetivo... numa velocidade lenta, mas está!
Conversei com a professora sobre o dia que fiquei sozinho com eles, mostrei os exercícios que fizeram, ela achou interessante e disse que não era pra levar tão a sério as críticas, disse que certos dias ela chega correndo, com toda a preocupação para não deixa-los na mão e quase nenhum deles reconhece o esforço. Com o tempo vou ficando mais confiante e menos dependente do julgamento dos alunos, mas demora um pouco!
[O dia do meio] 08/06/2010
Terça-feira, dia que vou para monitorar alunos em outras turmas. Foi produtivo, é bom variar um pouco o espaço e os rostos. O que valeu desse dia foi à conversa com a professora de Ed. Física. Próximo da hora da saída passei na sala da turma que estou regulamente e lá estava ela apenas com dois alunos. Enquanto eles montavam uns blocos, nós conversamos sobre a loucura que uma sala de aula pode se: ela me contou sobre mãe de aluna que entrou em sala pra espancar outra aluna, contou de alunos que brigaram com gilete do apontador a ponto de um sair com o braço sangrando retalhando, contou de casos de polícia e de tudo que poderia acontecer em um circo, em uma penitenciaria, num hospício ou numa feira, mas invariavelmente acontece na escola. Foi um papo divertido e bom também pra relaxar em relação às neuroses que estava sobre a crítica da aluna na semana passada. Essa mesma aluna estava lá e me elogiou, depois criticou, depois xingou a professora e disse que gostava dela, tudo assim, no mesmo minuto. A professora achando graça disse que fulana era bem assim, da "pá virada" e pra não me encucar com os comentários porque o lance deles é ser do contra, então só ratifiquei o que já venho observando. Aluno gosta de reclamar! A menina reclamou porque eu dei pouca matéria no quadro da última vez e reclamou hoje quando tinha texton o quadro... vá entender. Fiquei mais tranquilo, o sinal tocou e o dia lá acabou.
[17º Dia] - Hoje.
Cheguei um pouco atrasado. Essa semana de provas, apostilas, trabalho pra fazer, trabalho pra entregar, to ficando enrolado com os horários, mas sobrevivendo. A professora estava lendo a apostila de poesias. Achei estranhíssimo o comportamento deles: todos quietos! Pensei que ela tinha brigado com a turma antes de eu chegar, mas nem foi isso, foi só uma daquelas situações misteriosas onde não se entende, só se aceita. A turma estava quieta, prestando atenção, durou quase 1 hora e depois seguiu a algazarra de sempre.
Entre uma correção de dever e outra, fui circulando pelas mesas, vendo como tava o progresso, ajudando nas dúvidas e ignorando as bobeiras.
Uma aluna (aquela que me criticou) trouxe um livro e pediu para que eu lesse com ela. Sem ressentimentos então, sentei do seu lado e fui ajudando-a na leitura, logo chegou um aluno que ficou olhando e também se sentou para ler. Essa dupla é a mesma que comentei alguns posts atrás, eles quase não se falam durante as aulas, sentam longe, tem aspectos totalmente diferentes de comportamento, mas nesse momento, com um livro, os dois se juntam e tentam entender as frases, associar com as figuras...é uma das melhores partes do dia quando vejo que eles estão realmente se esforçando (e gostando) pra aprender e não apenas enrolando.
É claro que não posso acreditar na mudança repentina prolongada, ela não existe. Depois da leitura a turma foi liberada para o recreio e na volta esses dois já estavam brigando, xingando, com brincadeiras de mau gosto e desrespeitos, hão de mudar... quando? Espero que até o final do ano, a menina já percebeu que eu fecho a cara diante das bobeiras dela e está mudando, espero uma conscientização geral. Esperar demais? Que seja!

Imagem: desenho Os Simpsons. Será que se escrevessem duzentas vezes no quadro "não vou xingar mais a mãe de meu colega" surtiria algum efeito prático?
quarta-feira, 2 de junho de 2010
2ª Prova de Choque
[15º Dia!]
Mais um dia sozinho com a turma. Hoje me preparei mais e bolei várias atividades para ter várias cartas na manga pra uma possível eventualidade. Não foi necessário.
Comecei explicando pra eles mais uma vez a importância daquela turma, que mesmo com o pé ruim fui lá pra não deixá-los na mão, enfim disse tudo aquilo que eles nunca ouvem.
Comecei a aula com a análise da música "Desabafo" do Marcelo D2, que trata das opiniões do cantor sobre a violência e as injustiças do cotidiano. Eles sempre reclamam de serem infantilizados, então levei uma música mais atual, um rap, que embora seja do D2 não tem nenhuma apologia a drogas, nem palavrões.
Eles foram receptivos, usei a letra também para discutir várias questões sociais com eles, o que era um desabafo, o que motivava a violência no Rio de Janeiro e, se pudessem, como a resolveriam.
Depois, aproveitando o gancho das aulas da professora que está usando poesias, perguntei qual eram as diferenças e semelhanças entre uma música e um poema, características como: verso, rima e métrica. Embora eles não associem muito bem a nomeclatura dos termos, sabiam os conceitos muito bem. Fechei essa atividade pedindo que encontrassem algumas palavras chaves e destacassem.
Até ai já era se foi quase 1 hora. Estavam muito agitados, gritando, se batendo, reclamando de tudo o tempo todo, em certo momento a coordenadora teve que ir a sala pedir para que ficassem quietos. O frustrante é que embora você se prepare muito para trazer algo dinâmico e educativo que ajude-os, as chances de que reconheçam seu esforço são próximas de nula.
Não tive a paciência maternal que a professora tem com eles, pelo contrário, durante as bagunças fui o mais seco possível na postura. Uma aluna deu um ataque de pirraça, algo assim:
- Não vou copiaaar nadaaaa!
- Fulana, você copia se quiser. Não sou seu pai, nem você é criança pra ficar fazendo pirraça aqui, se está insatisfeita, mete o pé, cai fora da sala!
- ...
Percebi que expressões como "mete o pé", "fica na moral", "para de sacanagem" os desestabiliza um pouco por não estarem acostumados a ouvirem um professor falar assim, na verdade eu não falo assim no dia a dia, mas lá tento passar a ideia nas broncas de forma direta, sem muita enrolação.
Depois da música, segui em matemática. Passei contas de multiplicação, porque contas "de mais" e "de menos" eles já sabem bem. Passei a família do x1 e do x2, muitos encontraram dificuldades em contas como "1 x 0", mas com esforço a maioria entendeu, copiou tudo e alguns foram no quadro fazer a correção. Muitos reclamaram, de novo, mas acabaram indo. Liberados para o recreio após a correção, pude enfim respirar.
[Recreio]
Na volta passei uma tarefa rápida. Fiz uma espécie de bingo de palavras, cada um tinha uma folha com umas quinze palavras, fiz cópias diferentes para quase todos, de modo que não podiam colar do colega porque tinham as mesmas palavras. Disse que não escreveria nada no quadro, apenas falaria, teriam então que prestar atenção e os 2 primeiros que marcassem toda a folha, ganhariam um chocolate (que comprei numa lojinha perto do colégio).
Incrível como quando tem alguma recompensa envolvida, por mais banal que seja, eles sempre se esforçam mais. Todos fizeram, ficaram atentos as palavras, até a aluna revoltada que não faria nada ficou acompanhando pela folha da colega. Cortei ela de novo, perguntei a turma como tava indo a marcação das palavras e ela gritou lá de trás "eu não vou fazerrrrr!!!!", e eu respondi "não estou falando contigo. é só com quem tá interessado." A turma ficou num silêncio constrangedor pra ela, que fechou a cara resmungou alguma coisa e não respondeu mais até o fim do dia.
Terminando, todos liberados, eu dei uma arrumada na sala e fui também.
Ouvi de uma aluna " a aula dele é muito chata". Talvez no começo ficasse chateado , mas a essa altura vejo que o ser aluno tende a ser do contra em qualquer situação e quando é confrontado em sua posição de conforto, é posto pra pensar fora da caixa, isso o incomoda e ele se revolta. Continuo fazendo o melhor , feriadão ai, 4 dias de descanso, muito estudo paras as provas da faculdade que estão apertando e a vida segue.
Mais um dia sozinho com a turma. Hoje me preparei mais e bolei várias atividades para ter várias cartas na manga pra uma possível eventualidade. Não foi necessário.
Comecei explicando pra eles mais uma vez a importância daquela turma, que mesmo com o pé ruim fui lá pra não deixá-los na mão, enfim disse tudo aquilo que eles nunca ouvem.
Comecei a aula com a análise da música "Desabafo" do Marcelo D2, que trata das opiniões do cantor sobre a violência e as injustiças do cotidiano. Eles sempre reclamam de serem infantilizados, então levei uma música mais atual, um rap, que embora seja do D2 não tem nenhuma apologia a drogas, nem palavrões.
Eles foram receptivos, usei a letra também para discutir várias questões sociais com eles, o que era um desabafo, o que motivava a violência no Rio de Janeiro e, se pudessem, como a resolveriam.
Depois, aproveitando o gancho das aulas da professora que está usando poesias, perguntei qual eram as diferenças e semelhanças entre uma música e um poema, características como: verso, rima e métrica. Embora eles não associem muito bem a nomeclatura dos termos, sabiam os conceitos muito bem. Fechei essa atividade pedindo que encontrassem algumas palavras chaves e destacassem.
Até ai já era se foi quase 1 hora. Estavam muito agitados, gritando, se batendo, reclamando de tudo o tempo todo, em certo momento a coordenadora teve que ir a sala pedir para que ficassem quietos. O frustrante é que embora você se prepare muito para trazer algo dinâmico e educativo que ajude-os, as chances de que reconheçam seu esforço são próximas de nula.
Não tive a paciência maternal que a professora tem com eles, pelo contrário, durante as bagunças fui o mais seco possível na postura. Uma aluna deu um ataque de pirraça, algo assim:
- Não vou copiaaar nadaaaa!
- Fulana, você copia se quiser. Não sou seu pai, nem você é criança pra ficar fazendo pirraça aqui, se está insatisfeita, mete o pé, cai fora da sala!
- ...
Percebi que expressões como "mete o pé", "fica na moral", "para de sacanagem" os desestabiliza um pouco por não estarem acostumados a ouvirem um professor falar assim, na verdade eu não falo assim no dia a dia, mas lá tento passar a ideia nas broncas de forma direta, sem muita enrolação.
Depois da música, segui em matemática. Passei contas de multiplicação, porque contas "de mais" e "de menos" eles já sabem bem. Passei a família do x1 e do x2, muitos encontraram dificuldades em contas como "1 x 0", mas com esforço a maioria entendeu, copiou tudo e alguns foram no quadro fazer a correção. Muitos reclamaram, de novo, mas acabaram indo. Liberados para o recreio após a correção, pude enfim respirar.
[Recreio]
Na volta passei uma tarefa rápida. Fiz uma espécie de bingo de palavras, cada um tinha uma folha com umas quinze palavras, fiz cópias diferentes para quase todos, de modo que não podiam colar do colega porque tinham as mesmas palavras. Disse que não escreveria nada no quadro, apenas falaria, teriam então que prestar atenção e os 2 primeiros que marcassem toda a folha, ganhariam um chocolate (que comprei numa lojinha perto do colégio).
Incrível como quando tem alguma recompensa envolvida, por mais banal que seja, eles sempre se esforçam mais. Todos fizeram, ficaram atentos as palavras, até a aluna revoltada que não faria nada ficou acompanhando pela folha da colega. Cortei ela de novo, perguntei a turma como tava indo a marcação das palavras e ela gritou lá de trás "eu não vou fazerrrrr!!!!", e eu respondi "não estou falando contigo. é só com quem tá interessado." A turma ficou num silêncio constrangedor pra ela, que fechou a cara resmungou alguma coisa e não respondeu mais até o fim do dia.
Terminando, todos liberados, eu dei uma arrumada na sala e fui também.
Ouvi de uma aluna " a aula dele é muito chata". Talvez no começo ficasse chateado , mas a essa altura vejo que o ser aluno tende a ser do contra em qualquer situação e quando é confrontado em sua posição de conforto, é posto pra pensar fora da caixa, isso o incomoda e ele se revolta. Continuo fazendo o melhor , feriadão ai, 4 dias de descanso, muito estudo paras as provas da faculdade que estão apertando e a vida segue.
Foto: Filme Ao Mestre com Carinho. Dar aula não é tão fácil quanto o Sidney Poitier fez parecer.
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