quinta-feira, 29 de julho de 2010

Conclusão

Finish him!!
Estou a quase 2 semanas adiando a última postagem. As aulas na escola já terminaram e já entrei de férias na faculdade sexta-feira passada, mas, como nota-se, fiquei evitando o encerramento.
Não há muito o que dizer, minhas opiniões gerais sobre o aprendizado nesse estágio estão no post passado e como venho dizendo desde maio, esse primeiro "mês" serviria como registro  da, quem sabe, minha futura profissão e acabou servindo também para futuros (ou atuais) professores poderem refletir sobre várias situações expostas aqui sobre o cotidiano do ensino público.
Consegui renovar o estágio (a renovação é feita a cada 6 meses) e pelo que vi na ficha de avaliação que fizeram, meu trabalho foi reconhecido. Recomeço dia 02 de agosto.
Como já dito também, recomeçarei com várias ideias que pretendo por em prática para ajudar ao máximo aqueles alunos a fecharem o ano com rendimento satisfatório. Consegui estruturar a grade de matérias na faculdade para que não fique muito sobrecarregado e possa também me dedicar aos estudos.
Não sei se já disse, mas se for o caso repito: na mesma semana que comecei nesse estágio recebi a proposta de pegar uma turma de EJA (Ensino de Jovens e Adultos), mas acabei recusando com receio de não conseguir dá conta das de 3 rotinas (faculdade de manhã, estágio a tarde e EJA a noite). Esse semestre já estou mais confiante e preparado, então me prontifiquei ao DIUC (Divisão de Integração Universidade Comunidade) lá da UFRJ, dizendo que estaria disponível caso alguma turma aparecesse.
O blog termina aqui, pelo menos a parte referente ao estágio. Talvez recomece com o cotidiano do EJA,  a rotina de uma turma de adultos numa comunidade é um outro ponto de vista interessante sobre o mesmo assunto (alfabetização), que acredito valer a pena compartilhar.
Obrigado a todos que passaram por aqui e comentaram e também aos que passaram e não disseram nada (a maioria). Pelo Google Analytics vi que tive cerca de 500 visitas, mas nem 20 comentários, só não reclamo muito porque eu também raramente comento em blogs ou sites que visito. :-D
Então é isso, caso alguém queira trocar alguma ideia ou perguntar alguma coisa, taí onde me encontrar:

diegodomingues87@gmail.com
http://pt-br.facebook.com/diegodomingues87
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=8571832363425410462

Até! ;-)

Diego Domingues

domingo, 11 de julho de 2010

Sobre o que aprendi

antes de tudo uma dica para caso algum estudante novato em faculdade venha parar aqui: jamais seja olho grande na hora de puxar matérias! Isso no final de período dá uma enrolação tremenda, por isso as postagens dos últimos dias estão tão inscontantes...e ainda tenho mais 2 semanas de provas! Salve-se quem puder!

[30º Dia] - 08/07/2010
E chegou o último dia! É estranho reler algumas passagens do blog e ver que, embora a ideia tenha sido escrever sobre meu primeiro mês, já estou no terceiro e ainda escrevendo. Comecei no início de maio e de lá pra cá, tirando os pontos facultativos, recessos, chuvas bíblicas, jogos do BraZil e aqueles dias que fiquei sem ir por ter torcido o pé...só no dia 08/07 é que cumpri 30 dias de estágio!
Na aula em si as coisas seguem de forma tranquila: muita agitação, alunos faltando, sumindo, outros aparecendo e se destacando, alguns do fundo da sala de 2 meses atrás são os primeiros da fila agora, outros persistem na resistência ao óbvio e vão levando as aulas com pouca ou nenhum seriedade.
O trígésimo dia em si não trouxe nada de especial e emblemático, foi um dia típico. Vou usar o espaço então para uma retrospectiva e alguns esclarecimentos.

[5 pontos fundamentais sobre o que aprendi]
Abaixo a síntese de minhas experiências com o estágio até aqui:

NINGUÉM TEM O CONTROLE DA SITUAÇÃO. O que nós temos é a sensação de controle ou, por experiência, as martimanhas para conseguir contornar algum acontecimento inesperado, mas nunca  podemos entrar numa sala de aula, achando que do início ao fim tudo vai ocorrer como planejado. Não vai.
É preciso estudar muito, ler bastante e ser dinâmico, dinamismo é a palavra chave para qualquer um que queira se aventurar na área de educação. Ninguém gosta de uma aula parada e repetitiva, por mais esforço que você tenha desempenhado para elaborar alguma atividade, sempre tenha outras de reserva e várias cartas na manga, porque se não se pode prever o andamento de uma aula, ao menos pode-se preparar para os imprevistos. E acredite, os imprevistos são o que de mais previsível vai acontecer.

OPINIÃO DE ALUNO TEM QUE SER CONSIDERADA...COM RESSALVAS. Eu ainda sou um aluno e se tudo correr bem serei ainda por um bons anos, mesmo assim é preciso admitir que opinião de aluno NUNCA deve ser levada ao pé da letra. Aluno reclama sem saber o porquê, aluno gosta de abusar de sua posição de conforto para testar os limites do professor, até onde ele é permissivo, até onde ele sabe, até onde ele vai...
Digo isso porque nesse período já ouvi ofensas de alguns e os mesmos alunos depois vieram me pedir para ajudá-los, me deram bala, doce, refrigerante (!). Uma aluna que me chamou de chato, venho pedir auxílio em leitura num tempo vago que ela poderia muito bem ter ido embora ou ter ficado no pátio brincando, outra aluna que me chamou de mentiroso (porque não liberei mais cedo) recentemente venho falar comigo sobre a família, sobre o namorado e perguntar o que eu achava do comportamento dela, que ela sabia que estava falando muito, mas ia melhorar...
Um aluno que me chamou de folgado (porque pedi para guardar o celular que ele usava na sala), me cumprimentou e foi se sentar do meu lado num dia inteiro para que eu ensinasse-o a ler um livro, pois não estava conseguindo.
Na maioria das vezes, toda a agressividade das atitudes são formas mal resolvidas de se expressar. Não deve-se nunca ser sensível demais e considerar as opiniões negativas como o fim, nem muito arrogante para desconsiderar qualquer opinião. Não há fórmula pronta! É tentativa e acerto....sempre.

UM PROFESSOR NÃO PODE ABRAÇAR O MUNDO. É uma frase meio desconfortante, alguns pensarão "mas é claro que pode! um professor pode abraçar o mundo, mudar toda uma sociedade". Não, não pode. Um professor pode abraçar uma pessoa, mudar uma sala, mas não o mundo. Então quando o aluno traz problemas familiares, sociais, pessoas...deve-se ter paciência e saber até que ponto é possível ir e que a partir dali, o poder do professor fica restrito.
Por exemplo: se um aluno chega todo revoltado porque vive numa área de pobreza, enfrenta violência diariamente, tem pais ausentes...o que o professor pode fazer? Mudar a área onde ele vive? eliminar a violência da comunidade? Exigir comprometimento dos pais? O professor pode (e deve) conscientizar o aluno sobre seus direitos e deveres, sobre quais influência ele deve e quais não deve seguir e fazer com que ele assimile conhecimento, desenvolva o senso crítico e tenha ferramentas necessária para se tornar um cidadão pleno e um futuro profissional honesto e sério. Mas e se esse aluno não absorve nada disso, se ele some da escola, se envolve com a criminalidade...foi então o professor que errou? a sociedade que o discriminou? o governo (sempre ele) que não o amparou? Não! Foi aquele aluno que tendo o livre arbítrio como qualquer pessoa teve os dois caminhos a sua disposição e optou pelo mais fácil, que quase sempre é o errado.

A ESCOLHA PELO CAMINHO ERRADO NÃO É UNANIMIDADE.
O tópico anterior puxa esse aqui. O velho papo de que "não tive oportunidades suficientes" é bom pra declarações sentimentalistas de pobres coitados! Há exemplos em nossa sociedade de pessoas com estilos de vida idênticos, vindo de origem semelhante, com ausência familiar igual e que mesmo assim conseguiram se tornar cidadãos de bem, enquanto outras desistiram. Alguns professores marcam vidas, outros passam batidos...mas se o aluno não tiver vontade de mudar, de correr atrás, de ser alguém melhor, ninguém fara isso por ele. E o professor jamais deverá sentir culpa pelos erros na vida de sua turma, ele precisa ter a postura confiante de que está fazendo o melhor que pode, se isso vai atingir a todos ou não, é outra história.

CONFIANÇA NO TRABALHO QUE FAZ É A CHAVE PARA O SUCESSO!
Esse título parece início de capítulo de livro de autoajuda, mas a ideia é essa: ou você faz um trabalho decente ou não faz nada. E se não fizer nada não poderá reclamar depois das frustrações na carreira. Foi uma escolha sua!
No estágio conheci todo tipo de professor: os gentis, os grossos, os frustrados e os apaixonados pela profissão, os pessimistas, os otimistas...enfim, há todo tipo de gente dando aula.
Conheci professores, que não sei ao certo quais matérias dão, mas são gentis, tranquilos, estão sempre rindo, me cumprimentam sempre também, perguntam se estou gostando da escola, compartilham ideias, sugerem propostas de aula e mesmo os que não falam comigo, mantêm uma postura profissional, chegam tomam seu café, corrigem suas provas, são educados e se relacionam muito bem com os alunos.
Por serem boas pessoas isso se reflete nos seus trabalhos, logo, se sabem o que estão fazendo, qual a finalidade, porque e por quem estão ali, já é meio caminho andado para o sucesso.
Há também os professores estressados, reclamões, que estão sempre com dor de cabeça, esses são a minoria, mas ainda existem. Parece que em algum lugar no percusso perceberam que ensinar não era pra eles, mas ao invés de mudarem de profissão, se acomodaram e ficaram lá, entregues a monotonia, pedindo aos dias que passem e os deixem...são bons professores? Não sei.
E há a professora que dá aula na turma que estou, essa merece um parágrafo a parte. É sem dúvida uma das pessoas mais legais que conheci esse ano, simpática, humilde, me ajuda o tempo todo, às vezes ouvindo minhas asneiras, às vezes dividindo opiniões sobre a turma e estratégias para ajudá-los. Tem uma paciência gigante e embora a turma seja muito complicada de se trabalhar, nunca a vi com raiva, no máximo, ao final da aula, um suspiro e um comentário irônico. Uma das peças-chaves que motivou meu interesse pela educação depois que comecei a estagiar foi o que tenho visto diariamente aquela professora fazer. Um trabalho difícil, mas nunca um mau trabalho.

[Fecho aqui então a retrospectiva de meu aprendizado, postarei ainda essa semana as considerações finais e meus planos de retomar o blog ou modifica-lo....isso fica pra depois!]

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Reta Final - 2ª Parte

[29º Dia] 05/07/2010
Ontem a professora passou uma música do Toquinho no começo da aula para eles ouvirem, interpretarem e destacarem algumas palavras que ela pediu. Depois seguimos para a bendita apostila!
Essa apostila do Projeto Fórmula da Vitória é muito bem intencionada, mas o desenvolvimento é meio complicado. A primeira era de charadas e piadas e apresentava as letras, esta segunda é de poemas e apresenta textos curtos. Ok! Ótima ideia! Alfabetizar alunos com poesia, mas a seleção dos textos ficou devendo...há poemas simples e de fácil entendimento, mas outros que nem eu nem a professora conseguimos entender. Segue exemplos:

A música da Morte, a nebulosa
estranha, imensa, música sombria,
passa a tremer pela minh’alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa…
Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
letes sinistro e torvo da agonia,
recresce a lancinante sinfonia,
sobe, numa volúpia dolorosa…

Cruz e Souza

Música da morte?? Letes sinistro? Volúpia dolorosa?! Tem mais...

Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Cruz e Souza

Perceberam? A ideia nesse último era trabalhar o fonema "V". ok! Mas Volúpia dos violões? Vórtices? Vulcanizada?!?! E pra fechar...

Dê-te estrelas o céu, flores o solo,
Cantos e aroma o ar e sombra a palmar.
E quando surge a lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fim seu preguiçoso rolo!

Antero de Quental

Até hoje to pra entender: o que é "sonhos sem fim seu preguiçoso rolo"?!?!!

Entenderam o que digo? Os poemas tem até sua beleza, e não é sobre isso que to discutindo aqui, a questão é que pra uma turma que até a poucos meses atrás não sabia o que era um "A" ou um "B" e já entrar em poemas de falam de vórtices, músicas mórbidas, volúpias e um preguiçoso rolo (juro! se alguém tiver entendido esse último, deixe um comentário me explicando, ok?)
E não para por ai, esses foram o que consegui copiar pra postar, mas há outros um tanto herméticos para uma turma de alfabetização.
Espero que esse projeto tenha uma ficha de sugestões, porque, como já disse, todo o discurso é muito bacana, mas fica um pouco fora do alcance da maioria e desperta a desatenção. Sorte que a professora tem um grande jogo de cintura perante essa poesia complexa. Ela saca um dicionário do armário, propõe uma interpretação com a turma e acaba aproveitando alguma coisa. Só fico pensando qual será a proposta da 3ª apostila...
Talvez numa turma como essa os poemas fizessem mais sucesso!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Reta Final

[28º Dia] - 1/07/2010
Véspera de um no feriadão por causa da Copa! Infelizmente, como já disse antes, devido ao ritmo de final de período lá na faculdade, atualizar o blog tem sido bem difícil. Agora a pouco, por exemplo, terminei um trabalho para Fundbras I que terei que apresentar num seminário depois de amanhã. Sobre o dia 01/07 não me lembro com clareza o que se passou. Mais vou tentar fazer uma retrospectiva de fatos que passaram batidos nos últimos dias.
- Levei o cartaz com as bandeiras que tinha feito no 25º Dia, consegui colocá-lo num lugar de destaque no corredor perto da entrada, não sei se todos notaram, mas como tinha dito que levaria, então está lá!
- Alguns alunos estão matando aula demais, quando chego vejo sempre os mesmos rostos no pátio, uns 3, aviso para subirem porque a professora já deve ter começado, alguns ignoram, outro dizem "já to indo!" e não vão. A velha situação que já abordei aqui, se uma pessoal não ocorre atrás, não se pode correr por ela.
- Propus para a professora algumas ideias para otimizar a turma no segundo semestre. Como já estou bem por dentro de todo o ritmo dos alunos e como funciona as engrenagens daquela escola, disse que seria bom se em um determinado tempo do dia eu pegasse aqueles alunos com dificuldades básicas como reconhecer alfabeto (que por incrível coincidência são os mais bagunceiros!), levá-los para uma outra sala e repassar toda a matéria, como um reforço do reforço. Representar as letras e passar exercícios bem elementares para que não fiquem tão atrasados perante o resto da turma. A professora gostou! Vai poder dar mais atenção aos que estão progredindo, mas ainda precisam de orientação e os bagunceiros que não funcionam na turma, terão uma nova chance de aprender.
Isso seria só durante um tempo do dia, o resto eles ficariam junto com os outros. Noto que a maioria tá indo bem, mais da metade já está alfabetizada e daqui pro final do ano é só reforçar bastante a leitura e a escrita. Minha meta inicial era fazer um trabalho sério, contribuindo para o sucesso desse projeto da escola de ajuda a alunos com dificuldades em séries avançadas, posso também estar ajudando futuros alunos. Não sei ainda se essa turma existirá ano que vem, entretanto se entregarmos um resultado positivo no final, as chances são maiores de outros alunos usufruirem dessa oportunidade.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Demonstrações de aluno

[27º Dia]
As aulas hoje foram tranquilas com reforço de leitura, escrita e correção de alguns exercícios, então para não ser repetitivo, ao invés de descrever o dia, decidi escrever um pouco sobre a observação de um aspecto do universo escola.
*
Depois de um feriadão de 4 dias devido a Copa a turma voltou bem agitada. Quando se enfrenta uma turma não se pode sempre ter a visão romântica de que você chegará na sala e os alunos te receberão com um "boa tarde!" caloroso ou um mero sorriso de concordância com a sua presença.
Não sei se eles tem dificuldade em demonstrar ou se não estão nem ai. Fico com a primeira opção. É preciso ter muita cautela na observação e nunca, jamais, levar pro lado pessoal críticas ou "caras feiras". Um aluno que passa quase 1 hora fazendo um exercício contigo do lado, pode, logo após o recreio, te olhar torto e, às vezes, até xingar. A conquista da confiança de uma turma é um trabalho de muita paciência, se já é assim com apenas uma pessoa, o que dirá com várias de todos os tipos.
Tento ver a relação que tenho com os professores na faculdade e emular para a relação que tenho com os alunos na escola. No começo, quando a aula no estágio acabava, eles saiam correndo da sala, nem um "tchau!" eu recebia ou quando passava por alguém na entrada, poucas vezes recebia um cumprimento, ficava meio frustrado e pensando aonde é que errei para não cativá-los o suficiente a ponto de falarem comigo naturalmente.
Depois fiquei pensando, "eu me despeso de todos os meus professores quando termino de assistir uma aula?" a resposta é não! Na verdade acho que raramente me despesso de algum, e isso não quer dizer que eu goste menos de uma aula ou de outra, só quer dizer que saio de uma aula já pensando na próxima ou na pressa de ir embora pro estágio. Mesma situação quando passo por um professor no corredor, às vezes fico sem graça de cumprimentá-lo, enquanto penso "falar ou não falar" ele já passou e quase sempre saio da última aula do dia meia hora antes dela terminar para ter tempo de almoçar antes de pegar a turma. Todos esses indícios poderiam levar um professor sensível a supor: "Dei aula para fulano o semestre inteiro, agora ele passa por mim  e nem diz um 'oi'!" ou  "poxa...minha aula está tão ruim que fulano precisou sair no meio?"
A verdade é que se enxerga o que se quer, não se pode ser muito radical e ver cada ato ou frase de um aluno como afronta ou desdém, nem também achar que sempre se é o dono supremo da razão e se os alunos não o aceitam, azar o deles. Nem tão ao céu nem tão a terra.
Alguns alunos são mais atenciosos e é perceptível que tentam suprir uma carência familiar com a figura do professor, já que em casa, muitas vezes, não têm uma imagem de autoridade, outros podem até ser carentes também, mas exteriorizam isso se definindo como independentes, não precisando de nada e ninguém, é o modo de defesa e de encarar o mundo que cada um conseguiu desenvolver.
Cabe ao bom educador reconhecer com sabedoria todos os sinais e todas as informações que o aluno traz, o melhor caminho para isso é realizar um trabalho consistente, planejado e sério, se não se pode agradar a todos, pelo menos deve-se tentar da melhor maneira possível.

domingo, 27 de junho de 2010

Da culpa pelo fracasso

[26º Dia] 24/06/2010    - "Tá acabaanoo!  tá acabaano!!"
Cheguei um pouco atrasado (praticamente como todas as quartas) vi a professora, uma aluna e uma mulher na porta da sala de aula conversando. Passei em frente indo para o bebedouro, e também para verem que eu já tinha chegado, foi quando eu estava já no final do corredor a professora me chamou:
- Diego! Acho que seria bom você conversar com ela também!
- ?
- Essa é a mãe da fulana!
- !
Essa fulana é uma aluna bem encrenqueira que tinha sido suspensa das aulas por ser muito bagunceira e desbocada, disseram que ela só poderia assistir as aulas se estivesse na presença do responsável, isso foi a 2 semanas, responsável nenhum apareceu...até aquele momento.
Fiquei sabendo que a fulana mentiu pra mãe, dizendo que estava indo pra escola, quando na verdade ia para o morro do Pinto (morro próximo da Central do Brasil) matar aula com outro colega, que também está sumido.
 A professora pediu minha opinião, disse então que seria curto e grosso, a mãe da menina me interrompeu então: "Ah, pode dizer! Ela é mal educada, folgada, respondona...." Então cortei-a : "Bom, fulana é uma menina muito inteligente, sabe da matéria, tá adiantada SÓ QUE às vezes é um pouco agitada demais, xinga muito e isso a atrapalha e a aula, mas se ela corrigir isso é MB (nota máxima) na certa. Lembrando que nesses casos, quando o responsável já sabe de todos os problemas do filho, ficar só criticando não ajuda, deve-se começar com elogios e ir apontando as dificuldades do aluno.
A mãe pediu várias desculpas por não ter aparecido antes, disse que realmente não sabia, que tinha mais  6 filhos (!), que trabalhava como faxineira, mas sempre priorizava a escola, que preferia faltar ao emprego que perder uma reunião de pais...deu pena daquela senhora! No final da conversa a professora voltou pra turma e eu fiquei mais uns minutos conversando com a responsável, disse que basicamente era isso, que não tinha muito mais o que dizer e a elogiei pelo interesse na vida estudantil da filha, que era de pais assim que a escola precisava, ou seja, sei que ela estava sabendo da gravidade da situação então pra não ficar uma situação muito desconfortável tentei ser direto, sem ser muito agressivo nas críticas.
Ai está uma situação complicada. Por um lado se culpa os professores pela falta de atenção dos alunos, pelo baixo rendimento, o professor é o bode expiatório de tudo de ruim que se passa na educação, o testa de ferro dos maus índices, das reprovações e evasões. Por outro lado julga-se os pais, por não darem educação aos filhos, por serem relapsos, não atenciosos, não passarem os valores básicos de ética e responsabilidade...E num caso dessses?
Quando os professores estão se esforçando ao máximo para ajudar aqueles alunos e vê-se uma mãe tão envergonhada pela situação  ("ela sabe que tem que estudar! eu converso isso com ela, eu trabalho limpando mijo dos outros, é isso que ela quer da vida? Eu fico com vergonha de pegar os cadernos dela, porque só estudei até a 4ª série, mas sempre falo da importância dos estudos...não sabia que ela tava assim!") e que apesar de tudo tenta dar um mínimo para a filha, uma oportunidade que ela não teve.
Nunca culpa-se os alunos. Porque não estão plenos de suas responsabilidades? Por serem imaturos? Inocentes? Por precisarem de orientação? Então todos os atos são culpas de quem os cerca...os professores, os pais, as influências dos amigos (estes com a mesma idade), mas nunca é culpa do jovem, por quê?
Esse fato me pôs para pensar  em como, às vezes, a culpa pelo fracasso de alguém é  da própria pessoa e até que ponto esse fracasso pode e deve ser dividido pelos que a influenciam (ou influenciaram). Pessoas com estilos de vida idênticos podem nem sempre ter percursos semelhantes na vida, então fica claro, que seja aluno, cidadão, pais, irmãos, filhos, todos têm o livre arbítrio para ditar os rumos de sua vida, nem sempre as condições serão favoráveis e o esforço em alguns casos poderá sem bem maior que em outros, mas nunca poderá se culpar o destino ou "as circustâncias" pelo rumo de vida, no final das contas, a culpa pela vitória ou pelo fracasso é somente nossa.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ultrapassando a mesa

[25º Dia] - 23/06/2010
A professora precisou ir a uma reunião e não poderia chegar a tempo, pediu então se eu poderia ficar com eles. Fiquei. Já com todas as neuras, preocupações e inseguranças que as últimas experiências com os alunos tinham me colocado, mas dessa vez foi bem diferente.
Como a aula iria só até o recreio e depois eles seriam liberados, consegui trabalhar alguns exercícios com menos correria. Comecei retomando a parte de matemática que tinha parado quando fiquei sozinho lá da última vez: multiplicação. Segui para contas de x3 e x4. A turma estava vazia, uns 12, alguns que me viram chegando, e ficaram sabendo que a professora não viria, fugiram, com os que ficaram fui calmamente apresentando as contas e os conceitos das contas de multiplicação corretamente, embora isso já tenha sido dito antes, eles esquecem tudo muito rápido, alguns ainda sem confundem com multiplicação de x0 ou x1...foi preciso retomar muita coisa e incluir novidade. Enchi o quadro, todos copiaram em silêncio (!) e conforme as dúvidas iam aparecendo, ia de mesa em mesa ajudando, depois, quando todos já tinham feito, segui o esquema de correção, perguntando quem gostaria de ir no quadro resolver a questão, e como da última vez eles se empolgaram:
- Eu fico com a letra A !!! Eu com a J !!!! Eu quero a letra B !!! Não, não, a letra B é minha, eu pedi primeiro!! E daí?! Eu que vou fazer!! Euu! Zerim ou um então! Ganhei!! Eu faço! Você roubou!! Ahhh!
Depois da bagunça decidi que cada um iria ao quadro, faria a questão e a próxima, caso mais de um quisesse fazer, seria decidida no par ou ímpar. Que absurdo! Eles se empurrando pra serem os primeiros a fazer um dever...fenômenos de sala de aula.
Quando acertavam, eu colocava um sinal de visto e o nome de quem fez em cima da conta, dessa forma valorizava o acerto, o expondo pra turma, isso faz bem pra deles, de modo que lá pro final tinha aluno perguntando:
- Acertei professor??
- Acertou!
- Deixa que eu coloco meu nome na conta então!! (E tascava uma assinatura muito peculiar)

Depois da matemática fomos pro português, português disfarçado é claro. Nada de texto no quadro pra copiarem, nem apostila, não tenho segurança ainda com esses instrumentos, prefiro ir pro outro caminho. Dessa vez levei várias bandeiras em preto e branco de países que estão na copa de futebol, a primeira tarefa era cada um pintar a bandeira, dei preferência para bandeiras não tão populares (Costa do Marfim, República do Gana, Coréia do Norte, Argélia...) e escrevi de lápis qual era a cor de cada parte, então para pintarem corretamente teriam que ler corretamente! Depois deveriam escrever duas frases relacionadas a futebol ou ao país que receberam abaixo da pintura que fizeram. Dessa forma eles tiveram que exercitar o conhecimento que tinham. Ex:
- Professor!!! Aqui é que cor?
- Tá escrito! Qual a primeira letra?
 - V !
- Então, tem alguma cor que começa com V?
- (pensando...) Verde?
- (alguém de fora do diálogo grita) Vermelho também!!
- Então, qual a segunda letra? E a terceira? Lê com calma uma letra de cada vez que você descobre a cor
- V...E...R....
- Até ai as duas cores são iguais...qual a próxima?
E assim ia, eles tentando ler e eu ajudando só o necessário, pra que desenvolvessem suas ferramentas de leitura de forma própria, sem apenas repetir.A maioria conseguiu, alguns, é bem verdade, apenas copiaram do colega, outros não quiseram e ficaram andando pela sala. Fiz o que pude. O saldo geral foi positivo!
Disse que depois montaria um cartaz com todas as bandeiras e frases que fizeram e colocaria em algum corredor da escola, ficaram vaidosos. Como são uma turma fora da grade regular, ou seja, deveriam estar no 6º ano, mas estão no primeiro andar sendo alfabetizados, qualquer trabalho que os mostre para o resto dos estudantes é importante.
Depois do intervalo foram liberados, pegaram suas carteirinhas e foram pra casa. Quando eu estava indo embora 2 alunas me pararam:
- Ahh! Eu não quero ir embora, professor! Passa dever pra gente!
- ?!
- Fulana, o diretor disse que vocês podem ir!
- O senhor precisa ir embora? Não pode ficar?
- .....(what?!?!).....Claro! Eu fico com vocês mais meia-hora, ok? (após o recreio eles tem mais 1h de aula antes de ir embora)
Esse diálogo é ainda mais inusitado porque dele participou também aquela aluna que me criticou semanas atrás. Lembra? Que disse que eu era chato, que preferia a professora, etc...
Então, pedi pra que escolhessem um livro que iríamos ler juntos, nisso apareceu um aluno que também quis ficar. Éramos 4.
Fiquei na sala então com os três sentados a minha volta e o livro no meio, sobre a mesa, com cada um lendo uma página. Era um livro simples, com no máximo 3 frases por página e muitas ilustrações, entretanto para eles que até o começo do ano eram analfabetos terminar aquela leitura era uma grande conquista.
Foram lendo, entre alguns tropeços e caras de frustração por não entenderem um "NH" ou "SS" , que prontamente explicava como se pronunciava, foram ficando mais confiantes lá pro meio já liam página inteira sem interrupção. Foi um dos momentos mais incríveis, tanto pela evolução deles, que to acompanhando de perto, quanto por aquela aluna raivosa que preferiu ficar ali lendo comigo! Passado uns 40 min. disse que precisava ir, eles se despediram e foram.
No primeiro post disse que seria uma vitória se pudesse subir na mesa sem ser encarado como maluco, naquela referência ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, então faltando 5 dias pra fechar minhas anotações aqui, digo que esse dia, aquele instante, com certeza, ultrapassou a mesa.

Alguns já estão se levantado, percebendo sua realidade e se esforçando pra melhorar. Até o final do ano espero ver todos de pé!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Se usa o que se aprende?

[24º Dia]
A turma estava vazia no começo do dia, foi distribuído para cada um uma folha com um 3 desenhos em preto e branco do Gian Calvi e um espaço em baixo, a proposta era para pensarem em frases que representassem cada imagem e depois pintar.
Essas atividades de colorir, desenhar, recortar, colar, assistir filmes e ouvir músicas podem, à primeira vista, parecer infantis para uma turma de adolescentes, mas se os exercícios não forem intermeados por situações lúdicas, os alunos acabam ficando desinteressados, então nesses momentos eles relaxam um pouco e acabam assimilando o conteúdo com mais facilidade. É claro que sempre tem os do contra que nunca estão satisfeitos com nada, reclamam quando tem muita coisa pra copiar no quadro e reclamam quando os deveres são mais leves, mas até esses, depois de um pouco de pirraça, acabam embarcando e fazendo o que foi pedido.
Quando terminaram essa primeira parte a professora distribuiu folha de exercícios sobre palavras com CH e X, em que várias palavras deveriam ser completadas e depois conferidas na correção e também uma folha com frases onde o F e o V estavam faltando, o aluno então deveria completá-las, essas dúvidas são muito comuns entre eles e achei muito importante a professora reforçar certos dados primários, mas que hora e meia confundem alguns.
Na faculdade aprende-se que F e V são fonemas fricativos labiodentais, esse tipo de informação vale para os pesquisadores (é isso que a faculdade forma, não é?) mas para um professor é mera curiosidade linguística, na prática, numa sala de aula, o que interessa é que os alunos confundem essas letras e deve-se a todo tempo reforçar com exercícios, através de leitura e escrita o modo correto de produção. Vogal média-alta posterior? Não é " Ô ".  Oclusiva alveolar sonora? É "D". O tempo vai passando e até agora tenho notado a disparidade entre a teoria do ensino superior e a prática da profissão, é interessante conhecer os meandros do idioma, essencial diria, mas no fim das contas é como ouvi várias vezes: a faculdade é só um caminho obrigatório, como, quando e o quê fazer, só se aprende na prática...e assim tem sido!

domingo, 20 de junho de 2010

Visita a exposição de Gian Calvi

[23º Dia] - 18/06/2010
Dia de passeio! A professora levou os alunos até a exposição do ilustrador Gian Calvin no Centro Cultural dos Correios. Dos 25, apenas 12 foram, alguns simplesmente não apareceram e outros não tinham a autorização do responsável pra ir, as 13:30 saimos: a professora na frente guiando-os, a turma no meio e eu no fim da fila vendo se ninguém sairia do caminho ou fugiria.
O percurso foi tranquilo, em cerca de 10 minutos chegamos à exposição, lá uma guia fez a apresenação do local e foi passando informações sobre o artista e sua obra. Por incrível que pareça eles ficaram quietos, sem fazer nenhuma bagunça e, acredite ou não, até tímidos. Não sei se era o ambiente diferente que reprimiu a agitação costumeira ou se o fato dos mais agitados não terem ido, seja como for, a turma gostou, participou e se manteve na maior calmaria até o retorno, quando a professora distribuiu pacotinhos de biscoito pra todos (também ganhei um!) e assim voltamos.
No caminho fui conversando com os meninos da turma que estavam mais pro final da fila. Foi papo sobre videogame, eles ficaram meio surpresos de ver o "professor" conhecendo tanto de nintendo e playstantion, embora precise ter certa postura, é bom, às vezes, conversar com eles sobre coisas que fogem do tema escolar, acho que isso os ajuda a me enxergar não como um "adulto" que está ali pra dar ordens, mas como alguém que os entende e quer ajudá-los, certas pessoas acham que esse comportamento pode dar muita liberdade e dificultar a imposição de respeito, porém é importante saber que respeito não se impõe, se conquista.
[Retificando] Sobre o caso da explosão no pátio do último post, soube que o aluno não foi expulso, mas informado que só entrará no colégio com a presença dos responsáveis para uma conversa com o diretor. Menos mal.
Poster da exposição de Gian Calvi

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma bomba e uma expulsão

Falta pouco mais de 1 mês pro fim desse período na faculdade e a rotina de provas e trabalhos tá aumentando, é complicado conciliar vida acadêmica e profissional, ainda mais quando ambas exigem um alto grau de dedicação, então as atualizações estão capengas por aqui, mas estão indo.

[21º Dia] 16/06/2010
Foi ontem e não sei se pelo cansaço ou pela ausência de algo interessante, mas não me lembro de coisa alguma que valha a pena descrever. Hoje teve.

[22º Dia] - Hoje
Cheguei um pouco cedo, mas a professora já estava lá, arrumando o material dos alunos, aos poucos eles foram chegando e o caos (o bom e velho de sempre!) se instaurou. O primeiro exercício era escolher um poema, dentre os muitos que tinham nos livros sobre a mesa e copiar numa folha, desenhando ao lado algo que o representasse, depois a professora iria montar um cartaz com os trabalhos. Durante o dever, chegou na sala uma "fiscal" do Projeto Vitória (nome genérico do projeto em que essa turma de alfabetização tá inserida), ela conversou com a professora e foi para o final da sala avaliar a turma, cada aluno ia até ela e lia um trecho de um texto. Ninguém se comportou, mesmo com uma "visita" na sala, a professora ficou chateada e conversou sério com a turma ao final.
Incrível como alguns, sempre os que mais precisam, continuam ignorando a importância de se dedicar aos estudos, eu já aprendi a não tomar pra mim problemas que não são meus, ajudo-os o máximo que posso, mas os que não querem, ou acham que não precisam, não insisto mais como antes, porque no final das contas posso dar menos atenção pra alguém que tá interessado por culpa de alguém que tá ali só pra passar o tempo.  É triste saber que muitos não passarão de autônomos com baixo estudo em serviços mal remunerados, mas a informação e a ajuda estão ao alcance de todos naquela sala,  o que faz com que uns percebam isso e agarrem a oportunidade, enquanto outros a deixam passar é algo que ainda foge meu conhecimento e embora incomode, não mais pertuba.
No intervalo ouvimos da sala sala dos professores um barulho de explosão que parecia ser do pátio, lembrei que vi um aluno com uma caixa de fósforos e uma bombinha na aula e pedi pra ele guardar aquilo, que se a professora pegasse ia dar problema. Outra explosão! Nessa segunda o diretor desceu e pegou o tal aluno.
Os colegas tentaram defendê-lo, dizendo que não tinha sido ele e que tava sendo acusado injustamente, de qualquer forma o aluno acabou sendo expulso. Quando voltou pra pegar o material e ir embora ameaçou "o x9 que gaguetou" de morte (eles sempre ameaçam algo ou alguém de morte).


Seja como for, levar bomba e fósforo para a escola não é sinal de boa intenção e ele deu mole porque já o tinha avisado pra guardar, como sempre aviso quando os pego com celular (que segundo uma lei, pode ser confiscado pela professora e só devolvido para o responsável), dessa vez a consequência foi ruim, mas  poderia ter sido pior se por acaso aquela bomba tivesse ferido alguém.
Os alunos que ficaram fizeram a montagem de um livro com folhas de exercícios que tinha feito no começo do ano. Muita tesoura, papel picado, cola e bagunça, todos concluíram e depois de copiar um texto de ciências, liberados.
Amanhã irão visitar o centro cultural dos Correios, boa oportunidade pra ver como se comportam fora do habitar escolar. Será a mesma zona? Por via das dúvidas levarei uma espingarda e chumbo!

Reprodução do momento que a bomba explodiu no pátio do colégio. O terreno escolar pode ser bem instável.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma ou duas frustrações

[19º dia] - 11/06/2010
Dia de filme. A professora passou Indiana Jones Os alunos embora inacreditavelmente não soubessem de que se tratava, gostaram da história, é o típico filme "sessão da tarde" que ainda funciona. Nesse meio tempo ela teve que sair para conversar com uma professora itinerante apareceu. Professores itinerantes, pelo que eu percebi, são "fiscais" com cara de estagiários, que vão de turma em turma num período de mais ou menos 15 dias pra ver como as aulas estão correndo e gerar um relatório sobre isso. Acho meio desconfortável para um professor ter alguém ali para avaliá-lo, mas entendo que isso pode ser útil em algumas situações porque como em todo lugar há sempre ótimos funcionários e também os péssimos e com algo tão sério como a educação é preciso ter atenção, isso é claro, se os tais itinerantes tiverem todas as informações da dinâmica de uma sala de aula e não fiquem só fazendo anotações ignorantes e descabidas.
Depois do filme foi proposto para que fizessem frases com palavras chaves que representassem o filme. É sempre bom incentivá-los a escrever, escrever e escrever, mesmo que errem o importante aqui é o esforço em tentar aprender e não a mera cópia, alguns reclamam (do que não reclama?), mas acabam fazendo.
O dia foi tranquilo, proximidades com finais de semana e feriadões quase sempre são tranquilos.

[20º Dia] - 14/06/2010
Essa segunda eles estavam muito agitados, gritando, xingando, dando socos e pontapés pra todo lado. A aula começou com a apostila da poesias, leram alguns textos e tiveram que achar palavras relacionadas com um determinado tema e depois com essas palavras criar um poema. Na verdade a criação do poema era o menos importante, o que valia mesmo era tentar escrever sozinho, pensar sozinho. Muito difícil! A velha timidez sem motivo, ou melhor, com motivo desconhecido.
A frustração vem às vezes em porradas. Numa situação fiquei com 2 alunos durante um bom tempo, tentando pensar com eles, sempre tentando aproveitar algo que diziam e eles sempre monossilábicos. Demorou, mas de 10 palavras que tinham que pensar e escrever relacionadas com um tema proposto (amor, por exemplo) conseguimos fazer 8. Segue o diálogo:
- Então! Vamos lá, pensem uma palavras que tem a ver com "amor"...qualquer coisa, podem falar sem medo, que depois a gente vê junto como ela é escrita, mas primeiro vamos pensar na palavra.
- .... (minutos em silêncio)
- Então?
- ....
- Quando vocês pensam em "amor" o que vem a cabeça? Uhn?
- .... (continuam em silêncio, se olhando e depois olhando pra mim. Passam uns minutos)
- Bom, vou começar então! Coração? Pode ser? Como vocês acham que se escreve "coração". Qual a primeira letra?
- ... (silêncio)

E era assim! Sei que deve ter alguma técnica pedagógica, de ensino, com uma nomeclatura bem bonita que poderia me ajudar, mas é preciso ter ciência que to aprendendo tudo na hora, e que se algo dá certo, é na tentativa e erro, não cursei ainda nenhuma matéria de prática de ensino, de metodologia de whatever, nada!
O que me ajuda, de vez em quando, é o curso de alfabetizador que fiz no começo do ano.
Era um curso na própria faculdade, oferecido durante as férias, com foco em educação de jovens e adultos (EJA), porém como bem aprendi não existe fórmula pronta! A distância entre teoria e prática é gigantesca, (quase como a distância entre o ensino para crianças/jovens e ensino para adultos) é bom ter alguma base teórica, alguns conceitos, mas na hora do vamos ver, é o jogo de cintura e a rapidez de pensamento que te salvam de ser engolido por uma turma.
Naquele caso eu queria que eles pensassem sozinhos, sem pressão, e nisso iam os minutos, no final vi que precisava começar porque senão nada sairia dali e mesmo assim depois de um tempão com os dois, quando só faltava duas palavras pra acabarem, eu disse "muito bom! vocês chegaram até aqui, agora eu vou ajudar fulano e vocês façam sozinhos só essas duas últimas e daqui a pouco eu volto pra ver como está indo, ok?"
Foi só eu me ausentar por 5 minutos, quando voltei vi que tinham copiado de um colega o final. Fiquei muito puto.
- Poxa!! Eu fiz o exercício quase inteiro com vocês!! Foram tão bem, é só eu sair que colam o resultado??
- Eu não colei não! Fiz sozinho!! (a palavra que escreveram foi "irmão")
- Vocês dois estão me dizendo que pensaram nessa palavra sozinhos e escreveram, é isso? Certeza?
- Claro, professor!!!
- Ok! (peguei as apostilas dele e fechei) Como se escreve "irmã" ?
- ....
- Ué! Se escreveram "irmão" sozinho, deveriam saber como é irmã! Como começa "irmão" então?
- ... (continuam em silêncio, devolvo as apostilas para conferirem)
- Leiam agora o que escreveram, como se escreve "irmão"
- R...I...S ?

Eu sabia que não tinham feito. Tanto é que eu coloquei a palavra na frente deles, era só olhar e soletrar e não conseguiram. Sei que eles têm dificuldade de reconhecer letras, por isso dei tanta atenção no começo, mas ver que não reconhecem a própria deficiência que tem, que precisam se esforçar e ver que é tanta cara de pau a ponto de copiar a resposta só pra "acabar rápido" me chateia, um tempo que perdi ali e poderia ter ajudado outros eu sei que são esforçados. Sempre é muito frustrante ver seu esforço não dar em nada, dessa vez foi exatamente assim.
Depois ainda teve um aluno que ficou irritado porque pedi que ele tirasse o fone de ouvido e prestasse atenção. Deu um ataque, disse que eu tava sendo muito folgado, e ficou resmungando até o final do dia.
Eles não devem ter nenhuma figura de autoridade em casa, ninguém deve questioná-los ou impor nada e se o fazem deve ser com palavrões e gritos, ouvir então um pedido de forma séria, mas calma os incomoda. Estranho. Lembrando que esse aluno do fone é o mesmo que leu junto com uma aluna um livro comigo dias atrás, ou seja, motivo pessoal para essa rebeldia não havia, sempre o ajudei e ele sempre foi tranquilo comigo, de repente isso! Vai entender!Mais alguns textos, interpretações e exercícios antes do fim da aula.

Hoje foi ponto facultativo por causa do jogo do braZZil e amanhã recomeça a rotina, faltam 10 dias pro fim desse blog, a proposta era fechar 30 dias úteis desde início e com alguns tropeços to conseguindo concluir, alguns leem, quase ninguém comenta, mas é isso ai, era pra ser um projeto pessoal de registro e assim tem sido, até a próxima, caro leitor fantasma! ;-)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A copa

[18º Dia]
O falso patriotismo nas ruas, as vuvuzelas estalando o timpano, muitos comentários embasados de Fátima Bernardes e recessos descabiveis, enfim a copa do mundo começou!
Na escola a professora pediu para que cada um escrevesse uma carta pra alguém, da forma que soubesse e quisesse. Um fez um convite para o batizado de um filho imaginário (?), fizeram cartas de amor, bilhetes para mãe e escritos de todo tipo, fiquei então nesse primeiro tempo ajudando aqueles com mais dificuldade para articular ideias. O engraçado é ver a teimosia deles, quando pergunto "então, vai escrever pra quem? sobre o que?", dizem "não sei! não sei!", então eu repito a mesma pergunta , em tons diferente de voz e acabam por responder e começar o exercício. O grande desafio não é perceberem o dever, é saberem que sabem o dever, mas só estão com preguiça de se esforçar o bastante. Durante o dia foi assim, sempre repetindo e repetindo a pergunta até extrair o que o tempo todo já sabiam. Algumas vezes ocorre algo parecido com isso:
- Professoorr!!! Como se escreve "casa" ?
- Ouve só CA-SA. Como se faz o som do CA?
- C mais A
-Muito bom! E o SA?
- S mais A ?!
- isso!! Junta tudo agora!
- Aaah tá!!! Valeu professor!
- :-)

Apenas respondi as perguntas com outras perguntas, a resposta no fundo já sabiam.
Depois foi a abertura da copa do mundo, para não dispesa-los cedo, a professora ligou a tv da sala para assistirem ali mesmo. Viram, comentaram, cantaram juntos algumas músicas e depois quando começaram a ficar agitados de novo, ela desligou e passou um texto para copiarem. O dia correu bem e pelo visto eles não terão aula nos dias de jogo do Brasil. E dá-lhe mais feriados! E viva o nosso paíZ !!

Preciso dizer que odeio muito tudo isso?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Atualizações rasteiras

Como me comprometi a atualizar esse espaço initerruptamente até fechar o 30º dia, às vezes é incomodo deixar passar um dia e não escrever nada. Não que alguém vá perceber, porque embora o Google Analytics diga que o blog tá sendo lido regularmente por um certo número de anônimos, a falta de comentários me estimula a ser preguiçoso com os relatos. Vamos lá:

[16º Dia] - 07/06/2010
O retorno após o mega feriadão. Os alunos estavam preguiçosos, muitos reclamando (sempre) do excesso de dever. A professora começou distribuindo um envelope com letras para que formassem palavras e colassem no caderno. Esses envelopes foram usados a quase um mês, e embora pouca, mas já consegui perceber alguma evolução, ou melhor, uma perda do "medo de errar" de alguns, estão ficando mais confiantes e isso é muito bom, porém se deixar por alguns segundos de estimulá-los, incentivá-los, voltam ao estado de baixa autoestima e agitação, é um processo persuasivo, mas que está se mostrando efetivo... numa velocidade lenta, mas está!
Conversei com a professora sobre o dia que fiquei sozinho com eles, mostrei os exercícios que fizeram, ela achou interessante e disse que não era pra levar tão a sério as críticas, disse que certos dias ela chega correndo, com toda a preocupação para não deixa-los na mão e quase nenhum deles reconhece o esforço. Com o tempo vou ficando mais confiante e menos dependente do julgamento dos alunos, mas demora um pouco!

[O dia do meio] 08/06/2010
Terça-feira, dia que vou para monitorar alunos em outras turmas. Foi produtivo, é bom variar um pouco o espaço e os rostos. O que valeu desse dia foi à conversa com a professora de Ed. Física. Próximo da hora da saída passei na sala da turma que estou regulamente e lá estava ela apenas com dois alunos. Enquanto eles montavam uns blocos, nós conversamos sobre a loucura que uma sala de aula pode se: ela me contou sobre mãe de aluna que entrou em sala pra espancar outra aluna, contou de alunos que brigaram com gilete do apontador a ponto de um sair com o braço sangrando retalhando, contou de casos de polícia e de tudo que poderia acontecer em um circo, em uma penitenciaria, num hospício ou numa feira, mas invariavelmente acontece na escola. Foi um papo divertido e bom também pra relaxar em relação às neuroses que estava sobre a crítica da aluna na semana passada. Essa mesma aluna estava lá e me elogiou, depois criticou, depois xingou a professora e disse que gostava dela, tudo assim, no mesmo minuto. A professora achando graça disse que fulana era bem assim, da "pá virada" e pra não me encucar com os comentários porque o lance deles é ser do contra, então só ratifiquei o que já venho observando. Aluno gosta de reclamar! A menina reclamou porque eu dei pouca matéria no quadro da última vez e reclamou hoje quando tinha texton o quadro... vá entender. Fiquei mais tranquilo, o sinal tocou e o dia lá acabou.

[17º Dia] - Hoje.
Cheguei um pouco atrasado. Essa semana de provas, apostilas, trabalho pra fazer, trabalho pra entregar, to ficando enrolado com os horários, mas sobrevivendo. A professora estava lendo a apostila de poesias. Achei estranhíssimo o comportamento deles: todos quietos! Pensei que ela tinha brigado com a turma antes de eu chegar, mas nem foi isso, foi só uma daquelas situações misteriosas onde não se entende, só se aceita. A turma estava quieta, prestando atenção, durou quase 1 hora e depois seguiu a algazarra de sempre.
Entre uma correção de dever e outra, fui circulando pelas mesas, vendo como tava o progresso, ajudando nas dúvidas e ignorando as bobeiras.
Uma aluna (aquela que me criticou) trouxe um livro e pediu para que eu lesse com ela. Sem ressentimentos então, sentei do seu lado e fui ajudando-a na leitura, logo chegou um aluno que ficou olhando e também se sentou para ler. Essa dupla é a mesma que comentei alguns posts atrás, eles quase não se falam durante as aulas, sentam longe, tem aspectos totalmente diferentes de comportamento, mas nesse momento, com um livro, os dois se juntam e tentam entender as frases, associar com as figuras...é uma das melhores partes do dia quando vejo que eles estão realmente se esforçando (e gostando) pra aprender e não apenas enrolando.
É claro que não posso acreditar na mudança repentina prolongada, ela não existe. Depois da leitura a turma foi liberada para o recreio e na volta esses dois já estavam brigando, xingando, com brincadeiras de mau gosto e desrespeitos, hão de mudar... quando? Espero que até o final do ano, a menina já percebeu que eu fecho a cara diante das bobeiras dela e está mudando, espero uma conscientização geral. Esperar demais? Que seja!


Imagem: desenho Os Simpsons. Será que se escrevessem duzentas vezes no quadro "não vou xingar mais a mãe de meu colega" surtiria algum efeito prático?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

2ª Prova de Choque

[15º Dia!]
Mais um dia sozinho com a turma. Hoje me preparei mais e bolei várias atividades para ter várias cartas na manga pra uma possível eventualidade. Não foi necessário.
Comecei explicando pra eles mais uma vez a importância daquela turma, que mesmo com o pé ruim fui lá pra não deixá-los na mão, enfim disse tudo aquilo que eles nunca ouvem.
Comecei a aula com a análise da música "Desabafo" do Marcelo D2, que trata das opiniões do cantor sobre a violência e as injustiças do cotidiano. Eles sempre reclamam de serem infantilizados, então levei uma música mais atual, um rap, que embora seja do D2 não tem nenhuma apologia a drogas, nem palavrões.
Eles foram receptivos, usei a letra também para discutir várias questões sociais com eles, o que era um desabafo, o que motivava a violência no Rio de Janeiro e, se pudessem, como a resolveriam.
Depois, aproveitando o gancho das aulas da professora que está usando poesias, perguntei qual eram as diferenças e semelhanças entre uma música e um poema, características como: verso, rima e métrica. Embora eles não associem muito bem a nomeclatura dos termos, sabiam os conceitos muito bem. Fechei essa atividade pedindo que encontrassem algumas palavras chaves e destacassem.
Até ai já era se foi quase 1 hora. Estavam muito agitados, gritando, se batendo, reclamando de tudo o tempo todo, em certo momento a coordenadora teve que ir a sala pedir para que ficassem quietos. O frustrante é que embora você se prepare muito para trazer algo dinâmico e educativo que ajude-os, as chances de que reconheçam seu esforço são próximas de nula.
Não tive a paciência maternal que a professora tem com eles, pelo contrário, durante as bagunças fui o mais seco possível na postura. Uma aluna deu um ataque de pirraça, algo assim:
- Não vou copiaaar nadaaaa!
- Fulana, você copia se quiser. Não sou seu pai, nem você é criança pra ficar fazendo pirraça aqui, se está insatisfeita, mete o pé, cai fora da sala!
- ...

Percebi que expressões como "mete o pé", "fica na moral", "para de sacanagem" os desestabiliza um pouco por não estarem acostumados a ouvirem um professor falar assim, na verdade eu não falo assim no dia a dia, mas lá tento passar a ideia nas broncas de forma direta, sem muita enrolação.
Depois da música, segui em matemática. Passei contas de multiplicação, porque contas "de mais" e "de menos" eles já sabem bem. Passei a família do x1 e do x2, muitos encontraram dificuldades em contas como "1 x 0", mas com esforço a maioria entendeu, copiou tudo e alguns foram no quadro fazer a correção. Muitos reclamaram, de novo, mas acabaram indo. Liberados para o recreio após a correção, pude enfim respirar.

[Recreio]

Na volta passei uma tarefa rápida. Fiz uma espécie de bingo de palavras, cada um tinha uma folha com umas quinze palavras, fiz cópias diferentes para quase todos, de modo que não podiam colar do colega porque tinham as mesmas palavras. Disse que não escreveria nada no quadro, apenas falaria, teriam então que prestar atenção e os 2 primeiros que marcassem toda a folha, ganhariam um chocolate (que comprei numa lojinha perto do colégio).
Incrível como quando tem alguma recompensa envolvida, por mais banal que seja, eles sempre se esforçam mais. Todos fizeram, ficaram atentos as palavras, até a aluna revoltada que não faria nada ficou acompanhando pela folha da colega. Cortei ela de novo, perguntei a turma como tava indo a marcação das palavras e ela gritou lá de trás "eu não vou fazerrrrr!!!!", e eu respondi "não estou falando contigo. é só com quem tá interessado." A turma ficou num silêncio constrangedor pra ela, que fechou a cara resmungou alguma coisa e não respondeu mais até o fim do dia.
Terminando, todos liberados, eu dei uma arrumada na sala e fui também.
Ouvi de uma aluna " a aula dele é muito chata". Talvez no começo ficasse chateado , mas a essa altura vejo que o ser aluno tende a ser do contra em qualquer situação e quando é confrontado em sua posição de conforto, é posto pra pensar fora da caixa, isso o incomoda e ele se revolta. Continuo fazendo o melhor , feriadão ai, 4 dias de descanso, muito estudo paras as provas da faculdade que estão apertando e a vida segue.
Foto: Filme Ao Mestre com Carinho. Dar aula não é tão fácil quanto o Sidney Poitier fez parecer.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Volta Dos Que Não Foram

[15º Dia?]
Hoje era pra ser o dia que ficaria com a turma sozinho, porém não sei o que aconteceu que ninguém apareceu. Fui com o pé imobilizado mesmo, afinal tinha prometido pra professora que segunda e quarta estaria com a turma, preparei várias atividades e na hora, cadê os alunos? Pelo que entendi a coordenadora os liberou porque achou que eu não viria por causa do pé, os poucos que ficaram (só dois!) foram pra sala de informática e ficaram lá de bobeira até a hora do intervalo, quando puderam ir embora. Dia perdido, fazer o que? Amanhã devo ir só pra ficar ná monitoria de alguns de outras turmas e quarta (se nada der errado) os encaro de fato!

- Boa tarde turma! Hoje nós vamos aprend....ué! Cadê?!

P.S. - Essa não é a sala lá do colégio. Imagem meramente ilustrativa do Google.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Constatações sobre o aluno e um acidente de percurso

[14º Dia]
Dia atípico. A professora me ligou dizendo que poderia se atrasar, eu disse então que ficaria com a turma , sem problema.Decidi passar contas de matemática de somar e subtrair, porque como já disse, embora seja uma turma de alfabetização focada em leitura e escrita, as noções de outras matérias também são passadas, só que em menor quantidade, é claro. Muitos tem dificuldade em contas de subtrair, o velho caso do "pega um emprestado, devolve" é complicado para o entendimento de alguns, tentei reforçar então essa parte de maior dificuldade.
Aluno é um ser do contra, isso to constatando dia a dia. No começo até levava pro lado pessoal uma crítica, um "aah professor, deixa de ser chato!", só que hoje vi que a ideia da maioria é questionar figuras de autoridade, seja quem for, até mesmo um pobre estagiário. Quando cheguei uma aluna gritou pra mim e rolou o seguinte diálogo:
- aah! eu não vou pra sala não, porque quem dá aula pra gente é a professora, não você! >:(
me aproximei dela com cara séria e perguntei com a maior calma possivel:
-o que você falou, Fulana?
-To brincando professor! Já to subindo! :)
- Ok!
A aula seguiu tranquila, outro ponto importante da personalidade de um aluno é que eles adoram receber visto, adoram ser valorizados e enaltecidos em seus acertos (quem não gosta?), então na hora da correção, decidi fazer uma lista no canto do quadro de quem se candidatava a ir fazer as questões lá na frente de todos. Corrigimos juntos: eu, o aluno que estava no quadro e a turma ajudando na correção, dessa forma todos participaram, até os tímidos que não quiseram ir na frente. Os que conseguiam encontrar a resposta da conta mostravam pra toda turma que sabia, se valorizando. Funcionou. No meio da aula já tinha aluno que não fazia nada querendo ir lá na frente, e até os que não sabiam muito de matemática foram com um colega pra ajudar, dessa forma a turma ficou interessada, houve cooperação entre alguns pra chegar no resultado juntos e acabaram aprendendo um pouco mais.
A professora chegou em torno de 40 min., passei o comando pra ela e fui pro final da sala acompanhar a aula e auxiliar os que estavam com dificuldade, como de praxe.
Uma coisa que não contei, mas aconteceu antes disso tudo foi que torci o tornozelo descendo do ônibus, dei a aula toda com o pé machucado, no intervalo pedi dispensa pra professora, que muito solícita, disse que eu podia ficar a vontade e ir embora, chegando em casa fui pro hospital ver o que tinha acontecido, porque depois que parei aquele corre-corre da sala, o músculo esfriou e começou a doer muito.
Resultado: um enchaço absurdo, imobilização da perna e um atestado de sete dias.
Dificilmente cumprirei esse atestado até o fim porque parece que segunda-feira terei que segurar a turma sozinho, mas vou ficar de repouso até lá pra ver se melhora alguma coisa. No mais, nada mais!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

As cobranças

[13º Dia]
Reunião de pais. Quando cheguei a aula já estava correndo,a primeira coisa que um aluno me perguntou foi "você vai falar bem de mim, tio?". Disse que falaria o necessário e ele me olhou torto. Paciência.
Mesmo com a reunião hoje a aula correu normalmente, fiz uma lista com os níveis de desenvolvimento da turma e entreguei para a professora, para ajudá-la na conversa com os responsáveis, apontando as necessidades específicas de cada um.
Enquanto ela foi, eu fiiquei com a turma por uns 40 min. e percebi que minha maior dificuldade até agora nem é lidar com eles, porque a relação com os alunos já está tranquila, meu problema é que não tenho noção de tempo dentro da sala de aula, penso que já se passou uma hora e na verdade só correram 20 min, é preciso mais prática pra poder aprender como segurar a atenção deles por um período longo de tempo.
A aula em si foi aquela bagunça de sempre: todos querendo ir beber água a todo tempo, os alunos inseguros de sempre que só vão pra frente se eu ficar do lado acompanhando, os bagunceiros que terminam rápido e atrapalham os outros e os que nem fazem nada e também atrapalham. Normal. Prossegui com a tarefa da apostila de poesias que estavam fazendo e depois distribui uma folha com exercícios de leitura de frases.
O que me deixa puto não é o atraso deles, porque eu saberia que seria assim e gosto muito do que faço ali, gosto de ajudá-los, ver seu progresso, sua cara de confiança perante um dever que julgavam não ser capaz de fazer, o que me chateia é a total falta de maturidade de alguns para o motivo daquela turma. São, em sua maioria, jovens com sérios problemas de alfabetização e que precisaram ser retirados do ciclo normal para  ficar de segunda a sexta (menos terça!) tendo aula SÓ de português.
Muitos copiam descaradamente o resultado do caderno do colega, e me mostram com a maior cara de pau o dever todo feito, peço então para que leiam a primeira linha do que está escrito, não sabem. Do que adianta um caderno cheio e nenhum conhecimento na cabeça? Temo que com as broncas e chamadas de atenção passem a me hostilizar, e a rejeição, seja em que situação for, é sempre muito ruim, mas entendo também que estou fazendo um trabalho da melhor maneira possível que consigo: lendo bastante sobre esse quadro de ensino, elaborando vários deveres pra levar, conversando com a professora sobre como podemos otimizar a turma....se por ventura eles vierem a me achar exigente demais e se revoltarem, será chato, mas de tudo alguma coisa fica e se eu for lembrado como "aquele que exigia muito e pegava no pé para que estudássemos" ao invés do "cara que apareceu de repente e não nos ajudou em nada" pra mim valerá a pena manter a postura de cobrança, quer gostem ou não.

Foto: Filme Nascido para Matar. "Vamos turma!! Ou vocês se esforçam mais pra ler isso direito ou não tem recreio hoje!!"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre todas as coisas

Desde o começo tentei ser regular nas postagens, mas semana passada foi uma sucessão de acontecimentos, compromissos, trabalhos da faculdade pra entregar que acabei não postando os relatos de quinta e sexta, enfim...vou tentar fazer um breve resumo!

[10º Dia]
Quinta-feira tudo correu bem. E já percebo a rotina se revelando, não que isso seja ruim, pelo contrário, os alunos vão ficando mais a vontade com minha presença, a maioria não se intimida mais em me chamar e alguns, os mais desprendidos, já me pedem bala, como se eu tivesse obrigação em ter: "poxa tio! nao tem bala hoje não? Aahh!" . Pois é! No final do dia um aluno problemático me abordou na saída e quis me acompanhar até o portão da escola, estranhei, mas fomos juntos, foi quando percebi que ele queria alguém pra ir até a rua  porque alguns meninos de outra turma, com quem implica, queriam bater nele na saída. Disse que iria até a esquina, porque era meu caminho mesmo, mas depois ele teria que ir sozinho, ser responsável pelo que faz, se arrumou confusão, dessarume-a então!
Esse aluno é complicado.  Atrapalha bastante a aula, é um dos mais velhos e também o mais atrasado, conversei com a professora sobre a possibilidade dele ir para um acompanhamento integrado, situação onde alunos com necessidades especiais ou certos deficits ficam, porque ali dificilmente evoluirá algo, como até agora tem sido, veremos o que fazer pra ajudá-lo, mas o pior problema como sempre é que ele não quer ou não está disposto a se esforçar para melhorar. Pena.

[11º Dia]
Sexta-feira, dia de filme. Uma aluna levou High School Musical, como de praxe a turma se revoltou por julgar o filme infantil demais, eles precisam sempre ser do contra, porém lá pra metade da exibição estavam cantando juntos e até um aluno bem marrento que disse que aquilo era "filme de bicha" estava mandando os outros calarem a boca pra poder ouvir os diálogos. Eles podem tentar se apropriar de todos os trijeitos, falas e comportamento de jovens rebeldes, independentes e muito maduros, mas são todos ainda crianças e se soubessem disso e aproveitassem essa fase como deveriam as coisas seriam bem melhores. Infelizmente disso nunca temos consciência no tempo certo, resta julgar os que também não terão.


[12º Dia]
Hoje. A professora está usando uma apostila com poemas, os alunos copiam do quadro, tentam interpretar e depois produzir seus próprios textos. Durante o exercício de copiar o que estava no quadro, ela e eu dividimos a turma e, em particular com cada um, pedimos para que lessem um texto que tinham copiado na sexta. Com isso estavamos fazendo um diagnóstico do nível que eles estão de leitura e compreensão.
A heterogeneidade da turma salta aos olhos. Alunos com dificuldade de reconhecer uma sílaba simples, com insegurança de dizer o que estão lendo, alguns lendo perfeitamente e outros que não estão nem ai e acham muito natural dizer "PÁ", quando eu peço para lerem  a sílaba "FI".
Depois dessa verificação, conversei com a professora e ela me disse que, embora alguns resultados bem abaixo do razoável, a turma está evoluindo em comparação ao início do ano, vamos tentar então separar os alunos em grupos com níveis de dificuldades próximo e passar exercícios específicos para cada situação, vou ver se elaboro algumas folhas personalizadas de dever, cada uma com o nome de um aluno e questões próprias do conhecimento e necessidade deles para resolver em casa.
O dia terminou com eu pedindo para que ela segurasse dois alunos depois da saída para ter uma conversa. Vi que um, que não lê nada, tem o caderno todo feito por outro que lê alguma coisa, ou seja, se baseando apenas pelo caderno vemos um aluno em desenvolvimento, na prática, um aluno estagnado.
Explicamos que não é assim que se ajuda o colega, copiando tudo pra ele, e para o outro que se ele continuar nessa enrolação vai repetir de ano de novo. Bronca dada, eles foram liberados.
Com muito esforço, determinação, fé e uma ajuda de forças ocultas sei que aquela turma terminará o ano com um rendimento bom, mas até agora o processo tem sido dureza.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um Pouco de Pessimismo

[8º Dia]
Ontem não teve aula (as terças não tem português), mas pra não ficar de bobeira fui lá ver se poderia ser útil de alguma forma.
Fiquei como monitor com uns 5 alunos do 6º ano, ajudando-os em leitura e interpretação de texto, levei um do Millôr Fernandes chamado A Morte da Tartaruga, eles se revezaram, cada um lendo um parágrafo, enquanto o grupo todo interpretava o texto conforme ia sendo lido.
As dificuldades foram semelhantes a que vejo na turma de alfabetização, embora todos devessem estar "alfabetizados", alguns tem dificuldade de ler dígrafos, outros tentam ler tudo rápido e comem palavras e o pior: há aqueles que sabem algo, ou acham que sabem, e ficam humilhando os que não sabem, esses além de arrogantes, atrapalham muito o processo de ensino.
Quanto mais convivo nesse meio, mas vejo a podridão que é o ensino público brasileiro, vejo pelo lado do ensino carioca, mas duvido que pelo Brasil a fora seja muito diferente, ontem por exemplo, peguei um aluno (entre aqueles 5) que não reconhecia um "M", um "A". Um aluno que chega ao 6º ano e não conhece uma vogal, ou não consegue ler uma sílaba simples não está semi-alfabetizado, nem tem dificuldades, não é analfabeto funcional, um aluno nessas condições está completamente analfabeto. E no 6º ano.
Como ele estava ficando constrangido por não conseguir ler o "MA", li junto e pedi para que ele sozinho interpreta-se aquela parte. Ele interpretou muito bem, entendeu o que se passava na história, o problema era que não sabia ler! Ao final do período que ficamos ali, esse aluno me perguntou se todos os dias teriamos aquele encontro, disse que provavelmente não, porque só as terças eu tenho o dia livre e ele me derrubou: "pena, nós deveriamos ter."
Dói bastante ver essas crianças já carentes, levando tanta porrada da vida e num ambiente como aquele, que deveria ser de inclusão e aperfeiçoamento intelectual, elas vão ficando cada vez mais pro lado, mais excluídas. Como um menino chega ao 6º ano sem saber ler? ou melhor, como um menino foi sendo aprovado por 6 anos seguidos e não perceberam que ele não dominava o mais básico do básico?
Aprovação automática? Professores sobrecarregados? Descaso da escola? Não sei! Sinto que os professores são muito bem intencionados e pelas conversas que ouço na sala deles, vejo que realmente se importam e discutem formas de ajudar (até mesmo salvar) alguns alunos, mas é dificil, tanto pelo que abordei no post anterior, sobre a questão familiar, quanto pela dificuldade de mapear 20, 25, às vezes 30 alunos no período de 1h por dia, se revezando em várias salas, em vários andares e em vários colégios. De quem é a culpa então?
O fato é que um aluno foi selecionado aleatoriamente numa turma para uma aula de reforço enquanto eu estava disponível e de cara já vi que ele precisa muito de ajuda e nem era pra estar naquela turma, quantos e quantos outros alunos daquela escola estão em situação parecida e quanto mais espalhados por ai vão chegar ao 9º ano, se formar e concluir o ensino fundamental sem os conhecimentos primários.
O sistema de educação é tão complexo que seria covardia apontar um único culpado por essa situação e minha intenção aqui nem é essa, mas o que alguns alunos da rede pública passam, seja no Rio, na Bahia ou no Amazonas é uma violência tão grande, mais tão grande contra seus direitos que não sei se sinto pena deles, raiva do sistema, impotência de não poder ajudar a todos como precisam ou tudo junto, mas que incomoda, incomoda...e muito!


fonte: IBGE.  Resultados otimistas?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sobre a autoestima dos alunos

[7º Dia]
E mais uma semana começa. Começamos hoje com matemática, a professora distribui apostilas com exercícios que por mais simples que pareçam, como pintar quadradinhos, circular objetos e reescrever números, é fundamental para fornecer a noção numérica básica, que muitos não possuem. Depois a professora propos uma tarefa onde cada aluno deveria recortar anúncios um de supermercado, formando uma lista de compras em que o valor total dos produtos não poderia ultrapassar R$100,00, com isso eles exercitariam as operações básicas com números com vírgula. Mais uma vez me desdobrei em mil para, junto com a professora, dar conta de ajudar a todos com suas dúvidas, e uma questão permanente, hoje me chamou a atenção.
É incrível como a autoestima desses alunos é baixa e como por mais que você prove que são capazes, eles custam a acreditar. Há um aluno muito gente boa, que sempre me chama para tirar dúvidas e quando eu o interrogo dizendo porque ainda não começou, ele é categórico em dizer: "eu não sei nada disso aqui!", então eu sento do lado dele e vou só anotando o que ele me diz, no final o exercício está resolvido só com as palavras que me passou, digo que o que eu fiz foi só copiar o que ele ia dizendo e o dever estava todo certo, mesmo assim, mesmo demonstrando todas sua capacidade, ainda ouço vários "eu não sei!" durante o dia.
Então pego o lápis e vou só apontando para os números, sem dizer nada, só me comunicando com indicações e olhares, sem palavras, ele fica inseguro, exita, mas responde corretamente e de novo, ao passar o lápis pra ele, diz não saber o que fez.
Hoje então decidi sair do "tá vendo fulano? você sabe!" e tentar ser um pouco mais persuasivo, disse mais ou menos assim:
- Fulano, olhe pra mim e ouve bem o que vou dizer, até agora a única coisa que eu fiz foi segurar o lápis pra você e em alguns momentos nem isso, só fiquei do seu lado assistindo....e você mostrou que sabe. O seu problema não é não saber a matéria, é ter medo de errar. Se por acaso alguém te chamar de burro, te ofender de alguma forma é papo de gente que não sabe o que tá dizendo, você é inteligente e se continuar se esforçando tem tudo pra terminar o ano com um ótimo resultado!
Ele ficou me olhando, depois abaixou a cabeça e fixou no papel...enquanto dava atenção a outro aluno lá vem ele de novo me pedir ajuda, então parei e disse para ele fazer aquela parte toda sozinho e só era pra me mostrar quando tivesse terminado, naquele momento não o ajudaria em nada, ficou meio desanimado e voltou pro lugar, minutos depois me chamou e perguntou: tá certo, professor? Estava.
Fiquei feliz por ter demonstrado um pouco de confiança e ter tido sucesso no que fez, mas infelizmente sei que voltando pra casa, dependendo dos estímulos que tiver, do que ouça dos familiares, ou às vezes do que não ouça,  pode voltar no dia seguinte do modo inicial.
Arrisco dizer que o papel da família tem um peso maior do que o da escola na formação intelectual do aluno, a criança fica no colégio por 4,5 horas por dia e todo o resto passa, ou deveria passar, em casa, com os pais, irmãos, parentes, vizinhos, colegas, um processo trabalhoso e insistente como o que tentamos realizar com eles pode não surtir o efeito desejado ou não ser tão efetivo quanto seria se os pais se interessassem mais, perguntassem sobre o dia do filho, sobre as aulas, muitos apenas desovam a criança no colégio e voltam algum tempo depois pra buscar, o que aconteceu nesse meio tempo? Não interessa.
Continuo, apesar das decepções, ciente da minha função e sabendo até aonde posso ir e aonde não alcanço. Reclama-se da política, da violência, da saúde e da educação, nesse último estou aprendendo que há sim falta de infraestrutura e investimento por parte do governo, mas também muito reflexo do valor que a sociedade atribue e enquanto a devida importância não for dada, muito além da autoestima será derrubado.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Buzz Lightyear e o Movimento de Translação

[6º Dia]
O insólito título é só pra tentar resumir o dia. Determinei que esse blog terá o prazo de 1 mês, exatamente por saber que depois de um tempo os assuntos ficarão repetitivos e acho que esse período é o necessário pra me adaptar e para as novidades se esvairem.
Cheguei um pouco atraso devido a um engarrafamento, mas acho que ninguém percebeu, fui para o auditório e a professora estava passando o filme Toy Story para os alunos. É incrível como até em momentos como esse eles se distraem, conversam sem parar e criam confusão, até durante um bom filme numa sala com ar condicionado eles ficam inquietos.
Minha mãe, que também é professora, disse que provavelmente alguns alunos se comportam dessa forma por não ter voz fora da escola, serem repreendidos e não ter oportunidade de expor o que pensam, então no colégio é essa algazarra, um modo de expressão simplesmente, bem desordeiro, mas um modo de expressão de jovens adolescentes querendo se comunicar a todo tempo e com todos que puderem.
Depois do filme, eles fizeram uma interpretação da história e tentaram montar frases com palavras-chaves que a professora colocou no quadro. Nesse momento fiquei ajudando 3 alunos ao mesmo tempo, naquela mesma questão de sempre, eles até sabem ler e escrever, mas tem um medo tão grande de errar que é como se não soubessem, então fiquei no meio de um círculo de cadeiras com os três, incentivando-os o tempo todo a pensar por conta própria e quando erravam dizia "lê de novo essa frase. você acha que tem algo faltando? O que? Onde?", ao lerem o que acabaram de escrever, percebiam o erro e eles próprios se corrigiam. Um trabalho de paciência acima de tudo.
A última cena do filme é durante o natal, um aluno perguntou porque lá nevava e aqui não, foi o pretexto para a professora, depois do intervalo, entrar com um pouco de geografia. Ajudei-a na explicação dos movimentos de rotação e translação com o uso de um mapa e um globo terrestre para eles compreenderem o porque dessa diferença de estações e porque enquanto é dia em um lugar em outro é noite. Eles ficaram interessados, perguntaram de um tudo e depois foram embora.
A semana começou bem, o meio foi caótico e apesar de derrapagens, consegui concluir de forma bem tranquila. Que venha o final de semana para poder descansar um pouco, por em ordem a rotina da faculdade e se preparar para a rotina do estágio, até agora saldo positivo na maior parte do tempo, espero que assim permaneça!

Lição da semana: o importante não é voar, é saber cair com estilo! ;-)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Dia Depois de Ontem

[5º Dia]
Tirando o primeiro dia, hoje foi o que fiquei mais ancioso. Queria saber qual seria a reação da turma a minha aula de ontem, o que diriam a professora sobre mim, enfim, como me julgariam. Mais uma vez a preocupação por antecipação não serviu de nada, todos estavam do mesmo jeito: às vezes quietos, as vezes desordenados, um dia típico.
Percebi que gostam muito de copiar coisas do quadro, embora alguns copiem sem saber o que escrevem, o fato de "encher caderno" pra eles é muito importante e o exercício de copiar um texto deixou-os em total silêncio por quase meia hora. Um feito e tanto!
A professora seguiu explicando a estrutura de um texto, a pontuação, espaçamento, e depois seguiu para alguns exercícios de matemática na apotila. Um parênteses aqui: Por ser uma turma focada em alfabetização, matérias como matemática, geografia e história ficam de lado, então a professora tenta introduzir esses assuntos durante as atividades. A aula seguiu tranquila (e aqui tranquila é usada no sentido de "não em total caos") ajudo alguns e passo de mesa em mesa vendo como tá o desenvolvimento deles
Durante o intervalo expliquei como foi o dia de ontem, as dificuldades, as sugestões e ela muito atenciosa ouviu tudo. Alguns professores que estavam perto se integraram na conversa, dizendo que é assim mesmo, que os alunos "sugam" todas as energias do professor, mas que com o tempo se aprende a lidar com isso, outros elogiaram minha coragem de pegar uma turma (que hoje fiquei sabendo, é a pior da escola!) logo de cara...depois de um dia tão desgastante esse papo foi ótimo pra me acalmar um pouco em relação a minha real função ali.
Na volta pra sala, estava acontecendo uma briga entre dois alunos, tentaram intervir, um quis jogar uma cadeira no outro, outro ameaçou o um de morte, disse que já foi preso e sabe que menor fica pouco tempo detido, então valeria a pena. Uma situação difícil, foi preciso chamar o diretor pra intervir e levá-los para fora, vez ou outra essas demonstrações de violência extrema aparecem, seja em ações ou palavras e infelizmente vai se acostumando com o inevitável.
A aula termina as 17h, os alunos se despedem, pelo visto nenhum ressentimento ficou das chamadas de atenção que dei ontem, um agradece as ajudas de hoje, outro me dá uma figurinha do Dragon Ball, que colei no celular, me despesso de todos e mais um dia termina.
É visível que apesar de todo esforço, muitos ali estão bem atrasados e dificilmente conseguirão concluir o programa e que outros não tem noção do prejuízo futuro que terão por não se dedicar agora, mas é a velha história: apesar de tudo, por alguns, vale a pena insistir.

Desconfio de que deve haver pelo menos uns seis Manolitos naquela turma.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Prova de Choque

[4º Dia]
"O Horror! O horror!"
Uso a frase do filme Apocalypse Now para começar o relato do dia de hoje. O correto seria começar contando como foi, depois o desenvolvimento e por último a conclusão, mas usando uma estrutura tarantinesca começo pelo fim sigo pelo começo e termino no meio, só assim para poder representar de fato como foi o dia de hoje: uma tremenda bagunça!
A professora começa corrigindo uns deveres da aula anterior que poucos fizeram, por volta de 14h ela avisa sobre sua reunião e que eu ficarei com a turma. Alguns se revoltam, um deles agarra ela não a deixando sair, outros mandam ela "ir embora com Deus!", enfim, após uma gritaria inicial, todos se acalmam e prestam atenção no que digo. Estou entregue aos leões.
Começo primeiro estabelecendo os parâmetros para que o dia corra bem, peço respeito e que enquanto estiver falando não gostaria de ouvir nenhuma conversa e que da mesma forma, quando um deles for falar eu ficarei quieto ouvindo, digo que todos ali merecem ser respeitados e que ninguém tem o direito de ofendê-los, entretanto para conquistar respeito é preciso se dar o respeito. Acho bom começar a lançar para eles alguns conceitos que podem ajudá-los a trabalhar sua autoestima, obviamente alguns escutaram e outros não, pergunto se alguém tem algo a dizer, alguma dúvida, crítica...Silêncio. Prossigo então para a atividade que elaborei.

[A atividade]
Dividi a turma em duplas, tentando colocar os mais avançados com os menos, para formar grupos equilibrados e um poder ajudar o outro, dei uma folha de papel ofício para cada dupla e depois pedi que apenas um viesse escolher alguma figura das que tinha espalhado na mesa.
Pedi então que o outro que não venho ainda, viesse e escolhesse uma revista (levei várias Épocas, Vejas e jornais) e retornasse a seu lugar. Pronto. Cada dupla com uma figura, uma revista e uma folha de papel.
O que eles deveriam fazer é criar uma frase baseada na imagem, só que ao invés de escrever, eles procurariam as palavras nas revistas, não as letras, as palavras inteiras.
Por exemplo, se uma dupla pegou a foto de um menino na praia e pensou na frase "João foi a praia.", teria que achar as palavras: "João", "foi", "a" e "praia", não poderia recortar letras soltas como J-o-ã-o.
Minha ideia era que trabalhassem em grupo, estimulando a criatividade pra pensar numa frase, sem apenas copiar nada pré-estabelecido e que exercitassem a leitura procurando não por letras, mas por palavras. Depois iria mostrar pra eles que no ato de folhear as revistas e procurar o que queriam, estavam na verdade lendo uma revista, um jornal e que poderiam fazer isso em casa, na rua, bastava terem atenção e concentração que poderiam exercer a leitura sem maiores problemas.
Na minha cabeça a ideia era boa, afinal como muitos não acreditam no seu próprio potencial com essa tarefa estariam lendo algo além do "BA-BE-BI-BO-BU", algo mais próximo do cotidiano.

[O resultado]
De fato muitos perceberam que ler uma revista com um grau um pouco mais complexo do que os deveres de apenas copiar que normalmente fazem é possível, outros não. Após a primeira meia hora, em que pensei na minha ingenuidade que a calmaria se manteria, muitos começaram a se levantar, zanzar pela sala, outros na frustração de não acharem o que queriam foram atrapalhar os colegas que estavam indo bem. Eu a todo tempo tentava ir em cada dupla para ajudá-los, tentando dar atenção para cada dúvida, mas em algum ponto, algo desandou e depois de vários pedidos, de alunos levantando, saindo da sala, brigando, o grand finale:  um deles jogou cola no cabelo de outro e esse outro quis revidar. A turma ficou em silêncio. Eu tentei concentrar toda a desaprovação que podia no olhar e mandei os dois pro banheiro pra se limpar e depois pra sala do diretor. Foram, voltaram, um deles eu deixei voltar pra sala e o outro conversei em particular na porta, pra explicar que as atitudes dele estavam atrapalhando a turma. Segunda chance dada.
A turma foi concluindo a atividade aos poucos e quando todos já tinham acabado, liberei-os para o recreio.

[E depois]
É muito fácil julgar qualquer atitude. Da segurança de minha posição de estagiário, observando a aula da professora, pensava em várias maneiras de otimizar os resultados, pensava em como poderia usar melhor as palavras e (vejam só!) pensava que no lugar dela, eles ficariam mais comportados. Não ficaram.
Fiquei chateado porque embora o início tenha sido proveitoso, o final foi bem complicado, depois do intervalo muitos não voltaram e para os que ficaram distribui folhas com exercícios para fazerem. Fizeram. Depois os liberei, com a autorização do diretor, meia-hora antes.

[Conclusão]
"o horror..."
Se antes já admirava a determinação e paciência da professora, hoje vi que ela merece um altar bem iluminado. Fico feliz porque a maioria me respeitou, alguns, apesar de estarem atrasados no aprendizado, são muito esforçados, porém outros atrapalham de tal forma que amanhã vou propor que chamem os pais desses alunos (uns 3) ou enviem algum bilhete de aviso.
Eu tento dar atenção a todos, mas sei que a partir do momento que o próprio aluno desisti de si, não há nada que eu possa fazer, tem que ser um trabalho conjunto e se se sentem confortáveis repetindo os passos dos pais ou vivendo sem grandes expectativas, o que posso fazer? Esse último parágrafo é um desabafo sincero, pois há muito eufemismo e hipocrisia quando se diz que tem que tratar a todos como iguais ou que sempre dá pra salvar um aluno, concordo em partes, porque se o aluno não quer se salvar nem aceita ajuda, o que se faz? Como se faz?
Hoje foi minha prova de choque, um dia muito cansativo, mas tudo é experiência e aprendizado, com certeza, apesar dos pesares, hoje cresci um pouco mais.

Agora eu sei como Daniel se sentiu...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Conquistando a confiança

[3º Dia]
Hoje a aula começou com a professora distribuindo folhas com sílabas aleatórias que os alunos teriam que recortar e montar palavras. Percebi que o trabalho manual prende a atenção dos mais agitados, ter algo para fazer que exige dedicação, paciência e atenção é importante pra sossegar a rebeldia de alguns, e ai está um ponto-chave numa boa aula: prender a atenção.
Com os mais novos: trabalhos manuais, em grupo, de confecção de algum projeto são bem vindos e com os alunos mais velhos (e ai eu me incluo) uma aula tem que ser participativa, em alguns casos se disfarçar de um bom debate, quebrar a monotonia, porque por mais bem intensionado que seja o professor e o aluno, ficar apenas sentado, escutando, depois de um certo tempo fica cansativo. É preciso propor algo diferente de apenas ouvir e hoje percebi que funciona, tanto pela experiência no estágio, quanto pela minha experiência nas aulas da faculdade, as melhores são as que o professor expõe a ideia e pede opiniões, divide com o aluno a palavra, põe o para pensar e não apenas aceitar o que é passado.
 Um fato aconteceu logo no começo do dia e me deixou surpreso. Cheguei, fui para o final da sala, como sempre e fiquei lá entre duas cadeiras vazias, quando a professora terminou a explicação do exercício, um aluno, que considero um dos mais agitados, se aproximou, sentou do meu lado e pediu ajuda no dever, logo depois um outro, também muito inquieto, se aproximou e ficou olhando, então perguntei se ele não queria se sentar próximo também, ele me olhou com um pouco de desconfiança, mas aceitou. Pegou sua mochila que estava lá na frente e ficou do meu lado recortando as sílabas da folha. Durante o recorte ambos permaneceram bem quietos, esse que chegou por último tem mania de ficar circulando pela sala o tempo todo e às vezes atrapalhando o dever dos outros, hoje ele ficou concentrado, perguntava toda hora pra mim "professor! tá certo?", fez tudo que foi proposto e no final teve a iniciativa de ajudar a varrer a sala pra limpar os papéis picados que ficaram espalhados.
Foi um comportamento curioso e é interessante perceber como certas atitudes, como ser atencioso, são percebidas pelos alunos e os ajuda no aprendizado.
No intervalo, durante o café, a professora Margareth perguntou se eu poderia segurar a turma sozinho na quarta-feira (próximo dia de aula, já que as terças não tem aula de português), fiquei receoso com a proposta, mas tentei aparentar tranquilidade e aceitei o desafio.
Do momento que sai da sala até chegar em casa, e agora mesmo enquanto escrevo isso,  fiquei pensando mil maneiras de elaborar uma aula dinâmica e atrativa que prenda a atenção de 20 alunos inquietos por 4 horas. Tarefa complicada, mas uma boa oportunidade de testar paciência e competência. Se eu sobreviver, posto o resultado.
Foto: Filme Laranja Mecânica. Se nada der certo para prender a atenção deles, há sempre o método Ludovico. ;-)
 
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