terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma ou duas frustrações

[19º dia] - 11/06/2010
Dia de filme. A professora passou Indiana Jones Os alunos embora inacreditavelmente não soubessem de que se tratava, gostaram da história, é o típico filme "sessão da tarde" que ainda funciona. Nesse meio tempo ela teve que sair para conversar com uma professora itinerante apareceu. Professores itinerantes, pelo que eu percebi, são "fiscais" com cara de estagiários, que vão de turma em turma num período de mais ou menos 15 dias pra ver como as aulas estão correndo e gerar um relatório sobre isso. Acho meio desconfortável para um professor ter alguém ali para avaliá-lo, mas entendo que isso pode ser útil em algumas situações porque como em todo lugar há sempre ótimos funcionários e também os péssimos e com algo tão sério como a educação é preciso ter atenção, isso é claro, se os tais itinerantes tiverem todas as informações da dinâmica de uma sala de aula e não fiquem só fazendo anotações ignorantes e descabidas.
Depois do filme foi proposto para que fizessem frases com palavras chaves que representassem o filme. É sempre bom incentivá-los a escrever, escrever e escrever, mesmo que errem o importante aqui é o esforço em tentar aprender e não a mera cópia, alguns reclamam (do que não reclama?), mas acabam fazendo.
O dia foi tranquilo, proximidades com finais de semana e feriadões quase sempre são tranquilos.

[20º Dia] - 14/06/2010
Essa segunda eles estavam muito agitados, gritando, xingando, dando socos e pontapés pra todo lado. A aula começou com a apostila da poesias, leram alguns textos e tiveram que achar palavras relacionadas com um determinado tema e depois com essas palavras criar um poema. Na verdade a criação do poema era o menos importante, o que valia mesmo era tentar escrever sozinho, pensar sozinho. Muito difícil! A velha timidez sem motivo, ou melhor, com motivo desconhecido.
A frustração vem às vezes em porradas. Numa situação fiquei com 2 alunos durante um bom tempo, tentando pensar com eles, sempre tentando aproveitar algo que diziam e eles sempre monossilábicos. Demorou, mas de 10 palavras que tinham que pensar e escrever relacionadas com um tema proposto (amor, por exemplo) conseguimos fazer 8. Segue o diálogo:
- Então! Vamos lá, pensem uma palavras que tem a ver com "amor"...qualquer coisa, podem falar sem medo, que depois a gente vê junto como ela é escrita, mas primeiro vamos pensar na palavra.
- .... (minutos em silêncio)
- Então?
- ....
- Quando vocês pensam em "amor" o que vem a cabeça? Uhn?
- .... (continuam em silêncio, se olhando e depois olhando pra mim. Passam uns minutos)
- Bom, vou começar então! Coração? Pode ser? Como vocês acham que se escreve "coração". Qual a primeira letra?
- ... (silêncio)

E era assim! Sei que deve ter alguma técnica pedagógica, de ensino, com uma nomeclatura bem bonita que poderia me ajudar, mas é preciso ter ciência que to aprendendo tudo na hora, e que se algo dá certo, é na tentativa e erro, não cursei ainda nenhuma matéria de prática de ensino, de metodologia de whatever, nada!
O que me ajuda, de vez em quando, é o curso de alfabetizador que fiz no começo do ano.
Era um curso na própria faculdade, oferecido durante as férias, com foco em educação de jovens e adultos (EJA), porém como bem aprendi não existe fórmula pronta! A distância entre teoria e prática é gigantesca, (quase como a distância entre o ensino para crianças/jovens e ensino para adultos) é bom ter alguma base teórica, alguns conceitos, mas na hora do vamos ver, é o jogo de cintura e a rapidez de pensamento que te salvam de ser engolido por uma turma.
Naquele caso eu queria que eles pensassem sozinhos, sem pressão, e nisso iam os minutos, no final vi que precisava começar porque senão nada sairia dali e mesmo assim depois de um tempão com os dois, quando só faltava duas palavras pra acabarem, eu disse "muito bom! vocês chegaram até aqui, agora eu vou ajudar fulano e vocês façam sozinhos só essas duas últimas e daqui a pouco eu volto pra ver como está indo, ok?"
Foi só eu me ausentar por 5 minutos, quando voltei vi que tinham copiado de um colega o final. Fiquei muito puto.
- Poxa!! Eu fiz o exercício quase inteiro com vocês!! Foram tão bem, é só eu sair que colam o resultado??
- Eu não colei não! Fiz sozinho!! (a palavra que escreveram foi "irmão")
- Vocês dois estão me dizendo que pensaram nessa palavra sozinhos e escreveram, é isso? Certeza?
- Claro, professor!!!
- Ok! (peguei as apostilas dele e fechei) Como se escreve "irmã" ?
- ....
- Ué! Se escreveram "irmão" sozinho, deveriam saber como é irmã! Como começa "irmão" então?
- ... (continuam em silêncio, devolvo as apostilas para conferirem)
- Leiam agora o que escreveram, como se escreve "irmão"
- R...I...S ?

Eu sabia que não tinham feito. Tanto é que eu coloquei a palavra na frente deles, era só olhar e soletrar e não conseguiram. Sei que eles têm dificuldade de reconhecer letras, por isso dei tanta atenção no começo, mas ver que não reconhecem a própria deficiência que tem, que precisam se esforçar e ver que é tanta cara de pau a ponto de copiar a resposta só pra "acabar rápido" me chateia, um tempo que perdi ali e poderia ter ajudado outros eu sei que são esforçados. Sempre é muito frustrante ver seu esforço não dar em nada, dessa vez foi exatamente assim.
Depois ainda teve um aluno que ficou irritado porque pedi que ele tirasse o fone de ouvido e prestasse atenção. Deu um ataque, disse que eu tava sendo muito folgado, e ficou resmungando até o final do dia.
Eles não devem ter nenhuma figura de autoridade em casa, ninguém deve questioná-los ou impor nada e se o fazem deve ser com palavrões e gritos, ouvir então um pedido de forma séria, mas calma os incomoda. Estranho. Lembrando que esse aluno do fone é o mesmo que leu junto com uma aluna um livro comigo dias atrás, ou seja, motivo pessoal para essa rebeldia não havia, sempre o ajudei e ele sempre foi tranquilo comigo, de repente isso! Vai entender!Mais alguns textos, interpretações e exercícios antes do fim da aula.

Hoje foi ponto facultativo por causa do jogo do braZZil e amanhã recomeça a rotina, faltam 10 dias pro fim desse blog, a proposta era fechar 30 dias úteis desde início e com alguns tropeços to conseguindo concluir, alguns leem, quase ninguém comenta, mas é isso ai, era pra ser um projeto pessoal de registro e assim tem sido, até a próxima, caro leitor fantasma! ;-)

1 comentários:

Jacqueline disse...

Meu querido Diego!

Há muitas pessoas que leem!!!Tenha certeza que suas reflexões são também as de muitos. As vezes nos falta tempo e/ou medo de admitir que todos nós passamos(alguns ainda passam) por estas situações em sala de aula.

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