segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Volta Dos Que Não Foram

[15º Dia?]
Hoje era pra ser o dia que ficaria com a turma sozinho, porém não sei o que aconteceu que ninguém apareceu. Fui com o pé imobilizado mesmo, afinal tinha prometido pra professora que segunda e quarta estaria com a turma, preparei várias atividades e na hora, cadê os alunos? Pelo que entendi a coordenadora os liberou porque achou que eu não viria por causa do pé, os poucos que ficaram (só dois!) foram pra sala de informática e ficaram lá de bobeira até a hora do intervalo, quando puderam ir embora. Dia perdido, fazer o que? Amanhã devo ir só pra ficar ná monitoria de alguns de outras turmas e quarta (se nada der errado) os encaro de fato!

- Boa tarde turma! Hoje nós vamos aprend....ué! Cadê?!

P.S. - Essa não é a sala lá do colégio. Imagem meramente ilustrativa do Google.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Constatações sobre o aluno e um acidente de percurso

[14º Dia]
Dia atípico. A professora me ligou dizendo que poderia se atrasar, eu disse então que ficaria com a turma , sem problema.Decidi passar contas de matemática de somar e subtrair, porque como já disse, embora seja uma turma de alfabetização focada em leitura e escrita, as noções de outras matérias também são passadas, só que em menor quantidade, é claro. Muitos tem dificuldade em contas de subtrair, o velho caso do "pega um emprestado, devolve" é complicado para o entendimento de alguns, tentei reforçar então essa parte de maior dificuldade.
Aluno é um ser do contra, isso to constatando dia a dia. No começo até levava pro lado pessoal uma crítica, um "aah professor, deixa de ser chato!", só que hoje vi que a ideia da maioria é questionar figuras de autoridade, seja quem for, até mesmo um pobre estagiário. Quando cheguei uma aluna gritou pra mim e rolou o seguinte diálogo:
- aah! eu não vou pra sala não, porque quem dá aula pra gente é a professora, não você! >:(
me aproximei dela com cara séria e perguntei com a maior calma possivel:
-o que você falou, Fulana?
-To brincando professor! Já to subindo! :)
- Ok!
A aula seguiu tranquila, outro ponto importante da personalidade de um aluno é que eles adoram receber visto, adoram ser valorizados e enaltecidos em seus acertos (quem não gosta?), então na hora da correção, decidi fazer uma lista no canto do quadro de quem se candidatava a ir fazer as questões lá na frente de todos. Corrigimos juntos: eu, o aluno que estava no quadro e a turma ajudando na correção, dessa forma todos participaram, até os tímidos que não quiseram ir na frente. Os que conseguiam encontrar a resposta da conta mostravam pra toda turma que sabia, se valorizando. Funcionou. No meio da aula já tinha aluno que não fazia nada querendo ir lá na frente, e até os que não sabiam muito de matemática foram com um colega pra ajudar, dessa forma a turma ficou interessada, houve cooperação entre alguns pra chegar no resultado juntos e acabaram aprendendo um pouco mais.
A professora chegou em torno de 40 min., passei o comando pra ela e fui pro final da sala acompanhar a aula e auxiliar os que estavam com dificuldade, como de praxe.
Uma coisa que não contei, mas aconteceu antes disso tudo foi que torci o tornozelo descendo do ônibus, dei a aula toda com o pé machucado, no intervalo pedi dispensa pra professora, que muito solícita, disse que eu podia ficar a vontade e ir embora, chegando em casa fui pro hospital ver o que tinha acontecido, porque depois que parei aquele corre-corre da sala, o músculo esfriou e começou a doer muito.
Resultado: um enchaço absurdo, imobilização da perna e um atestado de sete dias.
Dificilmente cumprirei esse atestado até o fim porque parece que segunda-feira terei que segurar a turma sozinho, mas vou ficar de repouso até lá pra ver se melhora alguma coisa. No mais, nada mais!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

As cobranças

[13º Dia]
Reunião de pais. Quando cheguei a aula já estava correndo,a primeira coisa que um aluno me perguntou foi "você vai falar bem de mim, tio?". Disse que falaria o necessário e ele me olhou torto. Paciência.
Mesmo com a reunião hoje a aula correu normalmente, fiz uma lista com os níveis de desenvolvimento da turma e entreguei para a professora, para ajudá-la na conversa com os responsáveis, apontando as necessidades específicas de cada um.
Enquanto ela foi, eu fiiquei com a turma por uns 40 min. e percebi que minha maior dificuldade até agora nem é lidar com eles, porque a relação com os alunos já está tranquila, meu problema é que não tenho noção de tempo dentro da sala de aula, penso que já se passou uma hora e na verdade só correram 20 min, é preciso mais prática pra poder aprender como segurar a atenção deles por um período longo de tempo.
A aula em si foi aquela bagunça de sempre: todos querendo ir beber água a todo tempo, os alunos inseguros de sempre que só vão pra frente se eu ficar do lado acompanhando, os bagunceiros que terminam rápido e atrapalham os outros e os que nem fazem nada e também atrapalham. Normal. Prossegui com a tarefa da apostila de poesias que estavam fazendo e depois distribui uma folha com exercícios de leitura de frases.
O que me deixa puto não é o atraso deles, porque eu saberia que seria assim e gosto muito do que faço ali, gosto de ajudá-los, ver seu progresso, sua cara de confiança perante um dever que julgavam não ser capaz de fazer, o que me chateia é a total falta de maturidade de alguns para o motivo daquela turma. São, em sua maioria, jovens com sérios problemas de alfabetização e que precisaram ser retirados do ciclo normal para  ficar de segunda a sexta (menos terça!) tendo aula SÓ de português.
Muitos copiam descaradamente o resultado do caderno do colega, e me mostram com a maior cara de pau o dever todo feito, peço então para que leiam a primeira linha do que está escrito, não sabem. Do que adianta um caderno cheio e nenhum conhecimento na cabeça? Temo que com as broncas e chamadas de atenção passem a me hostilizar, e a rejeição, seja em que situação for, é sempre muito ruim, mas entendo também que estou fazendo um trabalho da melhor maneira possível que consigo: lendo bastante sobre esse quadro de ensino, elaborando vários deveres pra levar, conversando com a professora sobre como podemos otimizar a turma....se por ventura eles vierem a me achar exigente demais e se revoltarem, será chato, mas de tudo alguma coisa fica e se eu for lembrado como "aquele que exigia muito e pegava no pé para que estudássemos" ao invés do "cara que apareceu de repente e não nos ajudou em nada" pra mim valerá a pena manter a postura de cobrança, quer gostem ou não.

Foto: Filme Nascido para Matar. "Vamos turma!! Ou vocês se esforçam mais pra ler isso direito ou não tem recreio hoje!!"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre todas as coisas

Desde o começo tentei ser regular nas postagens, mas semana passada foi uma sucessão de acontecimentos, compromissos, trabalhos da faculdade pra entregar que acabei não postando os relatos de quinta e sexta, enfim...vou tentar fazer um breve resumo!

[10º Dia]
Quinta-feira tudo correu bem. E já percebo a rotina se revelando, não que isso seja ruim, pelo contrário, os alunos vão ficando mais a vontade com minha presença, a maioria não se intimida mais em me chamar e alguns, os mais desprendidos, já me pedem bala, como se eu tivesse obrigação em ter: "poxa tio! nao tem bala hoje não? Aahh!" . Pois é! No final do dia um aluno problemático me abordou na saída e quis me acompanhar até o portão da escola, estranhei, mas fomos juntos, foi quando percebi que ele queria alguém pra ir até a rua  porque alguns meninos de outra turma, com quem implica, queriam bater nele na saída. Disse que iria até a esquina, porque era meu caminho mesmo, mas depois ele teria que ir sozinho, ser responsável pelo que faz, se arrumou confusão, dessarume-a então!
Esse aluno é complicado.  Atrapalha bastante a aula, é um dos mais velhos e também o mais atrasado, conversei com a professora sobre a possibilidade dele ir para um acompanhamento integrado, situação onde alunos com necessidades especiais ou certos deficits ficam, porque ali dificilmente evoluirá algo, como até agora tem sido, veremos o que fazer pra ajudá-lo, mas o pior problema como sempre é que ele não quer ou não está disposto a se esforçar para melhorar. Pena.

[11º Dia]
Sexta-feira, dia de filme. Uma aluna levou High School Musical, como de praxe a turma se revoltou por julgar o filme infantil demais, eles precisam sempre ser do contra, porém lá pra metade da exibição estavam cantando juntos e até um aluno bem marrento que disse que aquilo era "filme de bicha" estava mandando os outros calarem a boca pra poder ouvir os diálogos. Eles podem tentar se apropriar de todos os trijeitos, falas e comportamento de jovens rebeldes, independentes e muito maduros, mas são todos ainda crianças e se soubessem disso e aproveitassem essa fase como deveriam as coisas seriam bem melhores. Infelizmente disso nunca temos consciência no tempo certo, resta julgar os que também não terão.


[12º Dia]
Hoje. A professora está usando uma apostila com poemas, os alunos copiam do quadro, tentam interpretar e depois produzir seus próprios textos. Durante o exercício de copiar o que estava no quadro, ela e eu dividimos a turma e, em particular com cada um, pedimos para que lessem um texto que tinham copiado na sexta. Com isso estavamos fazendo um diagnóstico do nível que eles estão de leitura e compreensão.
A heterogeneidade da turma salta aos olhos. Alunos com dificuldade de reconhecer uma sílaba simples, com insegurança de dizer o que estão lendo, alguns lendo perfeitamente e outros que não estão nem ai e acham muito natural dizer "PÁ", quando eu peço para lerem  a sílaba "FI".
Depois dessa verificação, conversei com a professora e ela me disse que, embora alguns resultados bem abaixo do razoável, a turma está evoluindo em comparação ao início do ano, vamos tentar então separar os alunos em grupos com níveis de dificuldades próximo e passar exercícios específicos para cada situação, vou ver se elaboro algumas folhas personalizadas de dever, cada uma com o nome de um aluno e questões próprias do conhecimento e necessidade deles para resolver em casa.
O dia terminou com eu pedindo para que ela segurasse dois alunos depois da saída para ter uma conversa. Vi que um, que não lê nada, tem o caderno todo feito por outro que lê alguma coisa, ou seja, se baseando apenas pelo caderno vemos um aluno em desenvolvimento, na prática, um aluno estagnado.
Explicamos que não é assim que se ajuda o colega, copiando tudo pra ele, e para o outro que se ele continuar nessa enrolação vai repetir de ano de novo. Bronca dada, eles foram liberados.
Com muito esforço, determinação, fé e uma ajuda de forças ocultas sei que aquela turma terminará o ano com um rendimento bom, mas até agora o processo tem sido dureza.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um Pouco de Pessimismo

[8º Dia]
Ontem não teve aula (as terças não tem português), mas pra não ficar de bobeira fui lá ver se poderia ser útil de alguma forma.
Fiquei como monitor com uns 5 alunos do 6º ano, ajudando-os em leitura e interpretação de texto, levei um do Millôr Fernandes chamado A Morte da Tartaruga, eles se revezaram, cada um lendo um parágrafo, enquanto o grupo todo interpretava o texto conforme ia sendo lido.
As dificuldades foram semelhantes a que vejo na turma de alfabetização, embora todos devessem estar "alfabetizados", alguns tem dificuldade de ler dígrafos, outros tentam ler tudo rápido e comem palavras e o pior: há aqueles que sabem algo, ou acham que sabem, e ficam humilhando os que não sabem, esses além de arrogantes, atrapalham muito o processo de ensino.
Quanto mais convivo nesse meio, mas vejo a podridão que é o ensino público brasileiro, vejo pelo lado do ensino carioca, mas duvido que pelo Brasil a fora seja muito diferente, ontem por exemplo, peguei um aluno (entre aqueles 5) que não reconhecia um "M", um "A". Um aluno que chega ao 6º ano e não conhece uma vogal, ou não consegue ler uma sílaba simples não está semi-alfabetizado, nem tem dificuldades, não é analfabeto funcional, um aluno nessas condições está completamente analfabeto. E no 6º ano.
Como ele estava ficando constrangido por não conseguir ler o "MA", li junto e pedi para que ele sozinho interpreta-se aquela parte. Ele interpretou muito bem, entendeu o que se passava na história, o problema era que não sabia ler! Ao final do período que ficamos ali, esse aluno me perguntou se todos os dias teriamos aquele encontro, disse que provavelmente não, porque só as terças eu tenho o dia livre e ele me derrubou: "pena, nós deveriamos ter."
Dói bastante ver essas crianças já carentes, levando tanta porrada da vida e num ambiente como aquele, que deveria ser de inclusão e aperfeiçoamento intelectual, elas vão ficando cada vez mais pro lado, mais excluídas. Como um menino chega ao 6º ano sem saber ler? ou melhor, como um menino foi sendo aprovado por 6 anos seguidos e não perceberam que ele não dominava o mais básico do básico?
Aprovação automática? Professores sobrecarregados? Descaso da escola? Não sei! Sinto que os professores são muito bem intencionados e pelas conversas que ouço na sala deles, vejo que realmente se importam e discutem formas de ajudar (até mesmo salvar) alguns alunos, mas é dificil, tanto pelo que abordei no post anterior, sobre a questão familiar, quanto pela dificuldade de mapear 20, 25, às vezes 30 alunos no período de 1h por dia, se revezando em várias salas, em vários andares e em vários colégios. De quem é a culpa então?
O fato é que um aluno foi selecionado aleatoriamente numa turma para uma aula de reforço enquanto eu estava disponível e de cara já vi que ele precisa muito de ajuda e nem era pra estar naquela turma, quantos e quantos outros alunos daquela escola estão em situação parecida e quanto mais espalhados por ai vão chegar ao 9º ano, se formar e concluir o ensino fundamental sem os conhecimentos primários.
O sistema de educação é tão complexo que seria covardia apontar um único culpado por essa situação e minha intenção aqui nem é essa, mas o que alguns alunos da rede pública passam, seja no Rio, na Bahia ou no Amazonas é uma violência tão grande, mais tão grande contra seus direitos que não sei se sinto pena deles, raiva do sistema, impotência de não poder ajudar a todos como precisam ou tudo junto, mas que incomoda, incomoda...e muito!


fonte: IBGE.  Resultados otimistas?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sobre a autoestima dos alunos

[7º Dia]
E mais uma semana começa. Começamos hoje com matemática, a professora distribui apostilas com exercícios que por mais simples que pareçam, como pintar quadradinhos, circular objetos e reescrever números, é fundamental para fornecer a noção numérica básica, que muitos não possuem. Depois a professora propos uma tarefa onde cada aluno deveria recortar anúncios um de supermercado, formando uma lista de compras em que o valor total dos produtos não poderia ultrapassar R$100,00, com isso eles exercitariam as operações básicas com números com vírgula. Mais uma vez me desdobrei em mil para, junto com a professora, dar conta de ajudar a todos com suas dúvidas, e uma questão permanente, hoje me chamou a atenção.
É incrível como a autoestima desses alunos é baixa e como por mais que você prove que são capazes, eles custam a acreditar. Há um aluno muito gente boa, que sempre me chama para tirar dúvidas e quando eu o interrogo dizendo porque ainda não começou, ele é categórico em dizer: "eu não sei nada disso aqui!", então eu sento do lado dele e vou só anotando o que ele me diz, no final o exercício está resolvido só com as palavras que me passou, digo que o que eu fiz foi só copiar o que ele ia dizendo e o dever estava todo certo, mesmo assim, mesmo demonstrando todas sua capacidade, ainda ouço vários "eu não sei!" durante o dia.
Então pego o lápis e vou só apontando para os números, sem dizer nada, só me comunicando com indicações e olhares, sem palavras, ele fica inseguro, exita, mas responde corretamente e de novo, ao passar o lápis pra ele, diz não saber o que fez.
Hoje então decidi sair do "tá vendo fulano? você sabe!" e tentar ser um pouco mais persuasivo, disse mais ou menos assim:
- Fulano, olhe pra mim e ouve bem o que vou dizer, até agora a única coisa que eu fiz foi segurar o lápis pra você e em alguns momentos nem isso, só fiquei do seu lado assistindo....e você mostrou que sabe. O seu problema não é não saber a matéria, é ter medo de errar. Se por acaso alguém te chamar de burro, te ofender de alguma forma é papo de gente que não sabe o que tá dizendo, você é inteligente e se continuar se esforçando tem tudo pra terminar o ano com um ótimo resultado!
Ele ficou me olhando, depois abaixou a cabeça e fixou no papel...enquanto dava atenção a outro aluno lá vem ele de novo me pedir ajuda, então parei e disse para ele fazer aquela parte toda sozinho e só era pra me mostrar quando tivesse terminado, naquele momento não o ajudaria em nada, ficou meio desanimado e voltou pro lugar, minutos depois me chamou e perguntou: tá certo, professor? Estava.
Fiquei feliz por ter demonstrado um pouco de confiança e ter tido sucesso no que fez, mas infelizmente sei que voltando pra casa, dependendo dos estímulos que tiver, do que ouça dos familiares, ou às vezes do que não ouça,  pode voltar no dia seguinte do modo inicial.
Arrisco dizer que o papel da família tem um peso maior do que o da escola na formação intelectual do aluno, a criança fica no colégio por 4,5 horas por dia e todo o resto passa, ou deveria passar, em casa, com os pais, irmãos, parentes, vizinhos, colegas, um processo trabalhoso e insistente como o que tentamos realizar com eles pode não surtir o efeito desejado ou não ser tão efetivo quanto seria se os pais se interessassem mais, perguntassem sobre o dia do filho, sobre as aulas, muitos apenas desovam a criança no colégio e voltam algum tempo depois pra buscar, o que aconteceu nesse meio tempo? Não interessa.
Continuo, apesar das decepções, ciente da minha função e sabendo até aonde posso ir e aonde não alcanço. Reclama-se da política, da violência, da saúde e da educação, nesse último estou aprendendo que há sim falta de infraestrutura e investimento por parte do governo, mas também muito reflexo do valor que a sociedade atribue e enquanto a devida importância não for dada, muito além da autoestima será derrubado.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Buzz Lightyear e o Movimento de Translação

[6º Dia]
O insólito título é só pra tentar resumir o dia. Determinei que esse blog terá o prazo de 1 mês, exatamente por saber que depois de um tempo os assuntos ficarão repetitivos e acho que esse período é o necessário pra me adaptar e para as novidades se esvairem.
Cheguei um pouco atraso devido a um engarrafamento, mas acho que ninguém percebeu, fui para o auditório e a professora estava passando o filme Toy Story para os alunos. É incrível como até em momentos como esse eles se distraem, conversam sem parar e criam confusão, até durante um bom filme numa sala com ar condicionado eles ficam inquietos.
Minha mãe, que também é professora, disse que provavelmente alguns alunos se comportam dessa forma por não ter voz fora da escola, serem repreendidos e não ter oportunidade de expor o que pensam, então no colégio é essa algazarra, um modo de expressão simplesmente, bem desordeiro, mas um modo de expressão de jovens adolescentes querendo se comunicar a todo tempo e com todos que puderem.
Depois do filme, eles fizeram uma interpretação da história e tentaram montar frases com palavras-chaves que a professora colocou no quadro. Nesse momento fiquei ajudando 3 alunos ao mesmo tempo, naquela mesma questão de sempre, eles até sabem ler e escrever, mas tem um medo tão grande de errar que é como se não soubessem, então fiquei no meio de um círculo de cadeiras com os três, incentivando-os o tempo todo a pensar por conta própria e quando erravam dizia "lê de novo essa frase. você acha que tem algo faltando? O que? Onde?", ao lerem o que acabaram de escrever, percebiam o erro e eles próprios se corrigiam. Um trabalho de paciência acima de tudo.
A última cena do filme é durante o natal, um aluno perguntou porque lá nevava e aqui não, foi o pretexto para a professora, depois do intervalo, entrar com um pouco de geografia. Ajudei-a na explicação dos movimentos de rotação e translação com o uso de um mapa e um globo terrestre para eles compreenderem o porque dessa diferença de estações e porque enquanto é dia em um lugar em outro é noite. Eles ficaram interessados, perguntaram de um tudo e depois foram embora.
A semana começou bem, o meio foi caótico e apesar de derrapagens, consegui concluir de forma bem tranquila. Que venha o final de semana para poder descansar um pouco, por em ordem a rotina da faculdade e se preparar para a rotina do estágio, até agora saldo positivo na maior parte do tempo, espero que assim permaneça!

Lição da semana: o importante não é voar, é saber cair com estilo! ;-)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Dia Depois de Ontem

[5º Dia]
Tirando o primeiro dia, hoje foi o que fiquei mais ancioso. Queria saber qual seria a reação da turma a minha aula de ontem, o que diriam a professora sobre mim, enfim, como me julgariam. Mais uma vez a preocupação por antecipação não serviu de nada, todos estavam do mesmo jeito: às vezes quietos, as vezes desordenados, um dia típico.
Percebi que gostam muito de copiar coisas do quadro, embora alguns copiem sem saber o que escrevem, o fato de "encher caderno" pra eles é muito importante e o exercício de copiar um texto deixou-os em total silêncio por quase meia hora. Um feito e tanto!
A professora seguiu explicando a estrutura de um texto, a pontuação, espaçamento, e depois seguiu para alguns exercícios de matemática na apotila. Um parênteses aqui: Por ser uma turma focada em alfabetização, matérias como matemática, geografia e história ficam de lado, então a professora tenta introduzir esses assuntos durante as atividades. A aula seguiu tranquila (e aqui tranquila é usada no sentido de "não em total caos") ajudo alguns e passo de mesa em mesa vendo como tá o desenvolvimento deles
Durante o intervalo expliquei como foi o dia de ontem, as dificuldades, as sugestões e ela muito atenciosa ouviu tudo. Alguns professores que estavam perto se integraram na conversa, dizendo que é assim mesmo, que os alunos "sugam" todas as energias do professor, mas que com o tempo se aprende a lidar com isso, outros elogiaram minha coragem de pegar uma turma (que hoje fiquei sabendo, é a pior da escola!) logo de cara...depois de um dia tão desgastante esse papo foi ótimo pra me acalmar um pouco em relação a minha real função ali.
Na volta pra sala, estava acontecendo uma briga entre dois alunos, tentaram intervir, um quis jogar uma cadeira no outro, outro ameaçou o um de morte, disse que já foi preso e sabe que menor fica pouco tempo detido, então valeria a pena. Uma situação difícil, foi preciso chamar o diretor pra intervir e levá-los para fora, vez ou outra essas demonstrações de violência extrema aparecem, seja em ações ou palavras e infelizmente vai se acostumando com o inevitável.
A aula termina as 17h, os alunos se despedem, pelo visto nenhum ressentimento ficou das chamadas de atenção que dei ontem, um agradece as ajudas de hoje, outro me dá uma figurinha do Dragon Ball, que colei no celular, me despesso de todos e mais um dia termina.
É visível que apesar de todo esforço, muitos ali estão bem atrasados e dificilmente conseguirão concluir o programa e que outros não tem noção do prejuízo futuro que terão por não se dedicar agora, mas é a velha história: apesar de tudo, por alguns, vale a pena insistir.

Desconfio de que deve haver pelo menos uns seis Manolitos naquela turma.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Prova de Choque

[4º Dia]
"O Horror! O horror!"
Uso a frase do filme Apocalypse Now para começar o relato do dia de hoje. O correto seria começar contando como foi, depois o desenvolvimento e por último a conclusão, mas usando uma estrutura tarantinesca começo pelo fim sigo pelo começo e termino no meio, só assim para poder representar de fato como foi o dia de hoje: uma tremenda bagunça!
A professora começa corrigindo uns deveres da aula anterior que poucos fizeram, por volta de 14h ela avisa sobre sua reunião e que eu ficarei com a turma. Alguns se revoltam, um deles agarra ela não a deixando sair, outros mandam ela "ir embora com Deus!", enfim, após uma gritaria inicial, todos se acalmam e prestam atenção no que digo. Estou entregue aos leões.
Começo primeiro estabelecendo os parâmetros para que o dia corra bem, peço respeito e que enquanto estiver falando não gostaria de ouvir nenhuma conversa e que da mesma forma, quando um deles for falar eu ficarei quieto ouvindo, digo que todos ali merecem ser respeitados e que ninguém tem o direito de ofendê-los, entretanto para conquistar respeito é preciso se dar o respeito. Acho bom começar a lançar para eles alguns conceitos que podem ajudá-los a trabalhar sua autoestima, obviamente alguns escutaram e outros não, pergunto se alguém tem algo a dizer, alguma dúvida, crítica...Silêncio. Prossigo então para a atividade que elaborei.

[A atividade]
Dividi a turma em duplas, tentando colocar os mais avançados com os menos, para formar grupos equilibrados e um poder ajudar o outro, dei uma folha de papel ofício para cada dupla e depois pedi que apenas um viesse escolher alguma figura das que tinha espalhado na mesa.
Pedi então que o outro que não venho ainda, viesse e escolhesse uma revista (levei várias Épocas, Vejas e jornais) e retornasse a seu lugar. Pronto. Cada dupla com uma figura, uma revista e uma folha de papel.
O que eles deveriam fazer é criar uma frase baseada na imagem, só que ao invés de escrever, eles procurariam as palavras nas revistas, não as letras, as palavras inteiras.
Por exemplo, se uma dupla pegou a foto de um menino na praia e pensou na frase "João foi a praia.", teria que achar as palavras: "João", "foi", "a" e "praia", não poderia recortar letras soltas como J-o-ã-o.
Minha ideia era que trabalhassem em grupo, estimulando a criatividade pra pensar numa frase, sem apenas copiar nada pré-estabelecido e que exercitassem a leitura procurando não por letras, mas por palavras. Depois iria mostrar pra eles que no ato de folhear as revistas e procurar o que queriam, estavam na verdade lendo uma revista, um jornal e que poderiam fazer isso em casa, na rua, bastava terem atenção e concentração que poderiam exercer a leitura sem maiores problemas.
Na minha cabeça a ideia era boa, afinal como muitos não acreditam no seu próprio potencial com essa tarefa estariam lendo algo além do "BA-BE-BI-BO-BU", algo mais próximo do cotidiano.

[O resultado]
De fato muitos perceberam que ler uma revista com um grau um pouco mais complexo do que os deveres de apenas copiar que normalmente fazem é possível, outros não. Após a primeira meia hora, em que pensei na minha ingenuidade que a calmaria se manteria, muitos começaram a se levantar, zanzar pela sala, outros na frustração de não acharem o que queriam foram atrapalhar os colegas que estavam indo bem. Eu a todo tempo tentava ir em cada dupla para ajudá-los, tentando dar atenção para cada dúvida, mas em algum ponto, algo desandou e depois de vários pedidos, de alunos levantando, saindo da sala, brigando, o grand finale:  um deles jogou cola no cabelo de outro e esse outro quis revidar. A turma ficou em silêncio. Eu tentei concentrar toda a desaprovação que podia no olhar e mandei os dois pro banheiro pra se limpar e depois pra sala do diretor. Foram, voltaram, um deles eu deixei voltar pra sala e o outro conversei em particular na porta, pra explicar que as atitudes dele estavam atrapalhando a turma. Segunda chance dada.
A turma foi concluindo a atividade aos poucos e quando todos já tinham acabado, liberei-os para o recreio.

[E depois]
É muito fácil julgar qualquer atitude. Da segurança de minha posição de estagiário, observando a aula da professora, pensava em várias maneiras de otimizar os resultados, pensava em como poderia usar melhor as palavras e (vejam só!) pensava que no lugar dela, eles ficariam mais comportados. Não ficaram.
Fiquei chateado porque embora o início tenha sido proveitoso, o final foi bem complicado, depois do intervalo muitos não voltaram e para os que ficaram distribui folhas com exercícios para fazerem. Fizeram. Depois os liberei, com a autorização do diretor, meia-hora antes.

[Conclusão]
"o horror..."
Se antes já admirava a determinação e paciência da professora, hoje vi que ela merece um altar bem iluminado. Fico feliz porque a maioria me respeitou, alguns, apesar de estarem atrasados no aprendizado, são muito esforçados, porém outros atrapalham de tal forma que amanhã vou propor que chamem os pais desses alunos (uns 3) ou enviem algum bilhete de aviso.
Eu tento dar atenção a todos, mas sei que a partir do momento que o próprio aluno desisti de si, não há nada que eu possa fazer, tem que ser um trabalho conjunto e se se sentem confortáveis repetindo os passos dos pais ou vivendo sem grandes expectativas, o que posso fazer? Esse último parágrafo é um desabafo sincero, pois há muito eufemismo e hipocrisia quando se diz que tem que tratar a todos como iguais ou que sempre dá pra salvar um aluno, concordo em partes, porque se o aluno não quer se salvar nem aceita ajuda, o que se faz? Como se faz?
Hoje foi minha prova de choque, um dia muito cansativo, mas tudo é experiência e aprendizado, com certeza, apesar dos pesares, hoje cresci um pouco mais.

Agora eu sei como Daniel se sentiu...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Conquistando a confiança

[3º Dia]
Hoje a aula começou com a professora distribuindo folhas com sílabas aleatórias que os alunos teriam que recortar e montar palavras. Percebi que o trabalho manual prende a atenção dos mais agitados, ter algo para fazer que exige dedicação, paciência e atenção é importante pra sossegar a rebeldia de alguns, e ai está um ponto-chave numa boa aula: prender a atenção.
Com os mais novos: trabalhos manuais, em grupo, de confecção de algum projeto são bem vindos e com os alunos mais velhos (e ai eu me incluo) uma aula tem que ser participativa, em alguns casos se disfarçar de um bom debate, quebrar a monotonia, porque por mais bem intensionado que seja o professor e o aluno, ficar apenas sentado, escutando, depois de um certo tempo fica cansativo. É preciso propor algo diferente de apenas ouvir e hoje percebi que funciona, tanto pela experiência no estágio, quanto pela minha experiência nas aulas da faculdade, as melhores são as que o professor expõe a ideia e pede opiniões, divide com o aluno a palavra, põe o para pensar e não apenas aceitar o que é passado.
 Um fato aconteceu logo no começo do dia e me deixou surpreso. Cheguei, fui para o final da sala, como sempre e fiquei lá entre duas cadeiras vazias, quando a professora terminou a explicação do exercício, um aluno, que considero um dos mais agitados, se aproximou, sentou do meu lado e pediu ajuda no dever, logo depois um outro, também muito inquieto, se aproximou e ficou olhando, então perguntei se ele não queria se sentar próximo também, ele me olhou com um pouco de desconfiança, mas aceitou. Pegou sua mochila que estava lá na frente e ficou do meu lado recortando as sílabas da folha. Durante o recorte ambos permaneceram bem quietos, esse que chegou por último tem mania de ficar circulando pela sala o tempo todo e às vezes atrapalhando o dever dos outros, hoje ele ficou concentrado, perguntava toda hora pra mim "professor! tá certo?", fez tudo que foi proposto e no final teve a iniciativa de ajudar a varrer a sala pra limpar os papéis picados que ficaram espalhados.
Foi um comportamento curioso e é interessante perceber como certas atitudes, como ser atencioso, são percebidas pelos alunos e os ajuda no aprendizado.
No intervalo, durante o café, a professora Margareth perguntou se eu poderia segurar a turma sozinho na quarta-feira (próximo dia de aula, já que as terças não tem aula de português), fiquei receoso com a proposta, mas tentei aparentar tranquilidade e aceitei o desafio.
Do momento que sai da sala até chegar em casa, e agora mesmo enquanto escrevo isso,  fiquei pensando mil maneiras de elaborar uma aula dinâmica e atrativa que prenda a atenção de 20 alunos inquietos por 4 horas. Tarefa complicada, mas uma boa oportunidade de testar paciência e competência. Se eu sobreviver, posto o resultado.
Foto: Filme Laranja Mecânica. Se nada der certo para prender a atenção deles, há sempre o método Ludovico. ;-)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Conselho de Classe

Alunos dispensados e professores reunidos para uma avaliação do bimestre.
Chego as 12:40h, vou direto para a sala dos professores, aquele ambiente que até então tinha receio de passar perto e agora vou entrando e sentando no sofá que tem lá numa boa. Os professores vão chegando aos poucos, alguns cumprimentam, outro não e as 13h começa.
Vamos todos para o auditório e nos posicionamos ao redor de uma mesa cumprida, cada qual munido de seus diário de classe (menos eu, é claro!). Me sento próximo da ponta, embora não me sinta confortável de estar numa reunião onde não farei nada além de assistir.
Seguindo um ritmo não muito cadenciado é feita uma avaliação global de cada aluno, com base nas avaliações individuais de cada professor, o formato de avaliação é baseado em letras e funciona assim:

MB  (muito bom)-  8,0-10,0
B (bom) -  7,0-7,9
R (regular) - 5,0-6,9
I (insuficiente) - 0-4,9

- O que vocês acham do aluno Fulano?
- R! / - R! / - R / - B... /  - I!
- Na média então "R" pra ele? Todos de acordo? Então fulano fica com "R" na avaliação global.

Às vezes algumas observações e sugestões são feitas  de casos específicos de determinados alunos e assim o conselho segue por aproximadamente umas 3h. Na hora da prof. Margareth explicar para os outros como funciona a turma que ela dá aula, ela cita a meu trabalho no auxílio dos alunos como "uma ajuda que caiu do céu!". Fico feliz pelo reconhecimento!
Vejo esse encontro com uma catarse dos professores, muitos aproveitam para dividir suas opiniões sobre os alunos, sobre a escola, sobre as várias dificuldades que encontram, eventualmente uma graça é dita e as conversas seguem,entre MBs e Rs, muita risada e café, pela tarde toda.
Conheci hoje uma senhora muito gente fina chamada Deise. Ela é responsável por uma turma que atende crianças com necessidades especiais na escola, ficamos conversando sobre nossas opiniões sobre a escola, sobre os alunos, ela me pergunta o que to achando do colégio e eu pergunto mais sobre o que ela faz ali. Foi um papo informativo e ajudou a distrair!
As 16:00h me liberam, Deise foi comigo até próximo ao ponto de ônibus, no caminho rimos um pouco das situações inusitadas do colégio, nos despedimos com um "prazer em conhece-lo" e mais um dia de estágio termina!
Cada dia é um aprendizado novo sobre os meandros do funcionamento de uma escola, o dia foi tranquilo, fiquei basicamente fazendo rabiscos e anotações enquanto todos falavam.
Minha primeira semana: saldo positivo!
E eu termino sem saber concluir direito um texto com esse, vou finalizar então da maneira mais fácil, com um ponto final, assim.

Pela combinação de heroísmo e gaiatice do ambiente, estava praticamente uma reunião dos Superamigos na Sala de Justiça!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

2º Round

[2º Dia]
Terça não teve aula e quarta foi uma reunião de professores que promoveu um passeio pelos arredores do colégio. O passeio foi bacana, pois pude conhecer um pouco mais do centro do Rio de Janeiro, assim como o corpo docente. Vi que eles são um grupo bem diversificado, mas a maioria pessoas de bem, muito receptivas e simpáticas. Professores nada mais são que alunos crescidos que decidiram ensinar outros alunos mais novos. Os papos são, guardada as devidas proporções, os mesmos, as brincadeiras e sacagens bem parecidas, ou seja, toda aquela aura mítica que possivelmente ainda guardava foi a baixo com essa relação mais próxima deles! Proveitoso!

Meu segundo dia na turma foi melhor do que o primeiro. Cheguei e a aula já tinha começado a alguns minutos e a professora estava concluindo alguns deveres da apostila. Dei boa tarde e disse que diferente de segunda-feira, quando fiquei só olhando, hoje iria ajudá-los diretamente, com apoio para dúvidas, na correção de exercícios e o que mais eles precisassem.
Durante a resolução pelos alunos dos deveres, ao invés de um auxílio genérico para todos, dei individualmente uma ajuda mais precisa . Parei em várias carteiras e com paciência fui atendendo o que me questionavam.
Além é claro da  falta de concentração que já tinha percebido no primeiro dia, outro grande problema que salta a vista é a baixa autoestima de alguns alunos, muitos tem medo de errar e por isso nem tentam, outros escondem sua fragilidade atrás de gritos, bagunça e certos desaforos. Eu os entendo.
Procuro sempre olhar a todos nos olhos e usar uma linguagem não muito superior, mas também evitando gírias e palavras que os façam não ter respeito por um estranho jovem que chegou sem mais nem menos querendo por ordem na casa. Não é assim!
Depois do intervalo, da conversa rápido na sala dos professores (aquele antro pagão, onde tudo acontece!), na volta pra turma, como da última vez, percebi a evasão de muitos. Contei 14 hoje na entrada, restava pouco mais de 8 na volta.
A professora liberou os alunos, eu estava me preparando pra ir também, ajeitando as cadeiras e ouvi um aluno dizer para mim da porta: "obrigado pela ajuda no dever hoje, professor!" . Gostei do que ouvi. Agradeci o agradecimento e ele foi.
Professor? Mas onde? Inevitavelmente eles já me chamam assim, alguns ainda usam o "o, moço!", mas acredito que se tivesse escolha, optaria pelo primeiro.
Ainda está tudo muito recente, eu sei bem disso, mas só de poder olhar pra qualquer um deles, ver que precisam de ajuda numa questão tão primária quanto complexa que é a alfabetização, que confiam no que vou dizer e se esforçam pra melhorar, isso pra mim é incrível! Talvez não fique rico sendo professor, nem a sociedade valorize tanto, mas embora não tenha certeza plena do que virei a fazer da minha vida no futuro, a sensação que tenho nessa turma me faz acreditar de alguma forma que estou no caminho certo.

Foto: Indiana Jones (a paisana). Se for pra ser um professor mesmo, que seja um fodão igual ao Henry Jones Junior. Que ensina arqueologia e ainda tem tempo  pra achar a Arca Perdida (!)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Primeira Impressão

[1º Dia]
Hoje foi o derradeiro primeiro dia como estágiario. Cheguei por volta de 11:30h e fiquei esperando quase uma hora até a turma e a professora chegarem. Logo no início a responsável pela turma, prof. Margareth, venho conversar comigo e perguntar se eu já estava ciente de como era a turma, respondi que sabia que era uma turma "complicada" e que teria que ter paciência, ela franziu a testa como quem pensa: "é só isso que te passaram?" Então perguntei se poderia nesse primeiro dia apenas assistir, como um aluno, para ver qual era a dinâmica da turma e como funcionava a rotina das aulas, ela foi muito simpática e disse que tudo bem!
Chegando na sala me surpreendi um pouco com os alunos, imaginei-os mais velhos, mas a maioria tá na faixa dos 14-16 anos, eram em torno de 18 alunos. A professora me apresentou como o professor Diego (glup! professor?!), depois me apresentei, disse que era um estagiário, que estava ali para auxiliar a professora e que qualquer coisa que precisassem era só falar comigo. Reação nenhuma. Fui para o fim da sala e lá fiquei assistindo o desenrolar desse dia.
A expectativa é algo terrível. Noite passada mal consegui dormir, toda hora acordando, me imaginando diante de um pelotão de fuzilamento, tentando elaborar algum discursso convincente de apresentação e no fim das contas a primeira impressão foi menos pior do que imaginava. Pra quem esperava uma turma "ó do borogodó", até que foi razoável, porém também deu para notar que não será um trabalho fácil.
A turma é bastante heterogênea em sua postura. Alguns são quietos e participam, outros quietos e só, alguns são desconcentrados, outros gritam, xingam, a maior dificuldade que percebi de cara, e se manteve por toda a tarde, foi a rapidez com quem se distraem. Às vezes  há um momento de silêncio na turma durante algum exercício, mas dura poucos minutos e já recomeça toda a bagunça. Não é uma turma maldosa, encrenqueira, são antes de tudo crianças com carência de atenção, tentando se autofirmar de alguma forma e na maioria das vezes, de forma errada.



[Intervalo]
As 15:20 é o recreio. A professora sai, tranca a sala e me leva até a sala dos professores. Chegar nesse ambiente como um "professor" torna tudo muito diferente. Ela me ofereceu um café e ficamos juntos com mais outra professora conversando. Me perguntaram qual minha primeira impressão da turma, disse que esperava algo pior. Uma delas achou graça e eu fiquei sem achar nada. Me explicaram que muitos ali tem problemas que vão bem além do estudantil, alguns bem sérios.
Posso até estar com uma visão romântica demais da situação e acabe saindo de lá frustrado algum dia, mas se eu já chegasse derrotado, tudo seria pior!

[Retorno pra sala]
Depois de 20min. retornamos. Alguns alunos não estão mais lá, nem seu material. Fugiram da escola. A aula é retomada com exércicios de criação de frases e interpretação de alguns textos curtos. Embora a professora nem sempre tenha total controle da turma, percebo que ela se esforça bastante em tentar ensinar a todos. Uma vez ouvi que "ser professor é um sacerdócio". E é! Não se pode entrar nessa de brincadeira, porque ou você pira ou se torna um profissional medíocre contando as horas pra aposentadoria.
Alguns alunos ficam me olhando com curiosidade a todo momento, me perguntaram duas vezes quanto tempo eu vou ficar ali. Não sei se minha presença estava incomodando ou se eles percebem que uma pessoa a mais pra ajudar seria bom pra turma, em todo caso, tentei ser o mais sincero possível, sem subestimar, nem infantilizar ninguém, mantendo uma postura séria, mas não pedante.
No final expliquei todos meus pontos de vista para a professora e sugeri formas de ajudá-la com a turma, ela me pareceu aliviada com um auxílio. A aula acabou e por volta de 16:50h, me despedi e fui embora.

[Conclusão]
Se eu estou fazendo uma faculdade de Letras, eu preciso ter o pé no chão e perceber que o caminho mais óbvio, embora não o único, é que eu venha a me tornar um professor. Essa experiência vai ser fundamental pra ver se estou no caminho certo ou não e com isso decidir melhor meu futuro profissional.
Primeiro dia: ok!
Vamos ver o que os próximos dias reservam!
 
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