segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sobre a autoestima dos alunos

[7º Dia]
E mais uma semana começa. Começamos hoje com matemática, a professora distribui apostilas com exercícios que por mais simples que pareçam, como pintar quadradinhos, circular objetos e reescrever números, é fundamental para fornecer a noção numérica básica, que muitos não possuem. Depois a professora propos uma tarefa onde cada aluno deveria recortar anúncios um de supermercado, formando uma lista de compras em que o valor total dos produtos não poderia ultrapassar R$100,00, com isso eles exercitariam as operações básicas com números com vírgula. Mais uma vez me desdobrei em mil para, junto com a professora, dar conta de ajudar a todos com suas dúvidas, e uma questão permanente, hoje me chamou a atenção.
É incrível como a autoestima desses alunos é baixa e como por mais que você prove que são capazes, eles custam a acreditar. Há um aluno muito gente boa, que sempre me chama para tirar dúvidas e quando eu o interrogo dizendo porque ainda não começou, ele é categórico em dizer: "eu não sei nada disso aqui!", então eu sento do lado dele e vou só anotando o que ele me diz, no final o exercício está resolvido só com as palavras que me passou, digo que o que eu fiz foi só copiar o que ele ia dizendo e o dever estava todo certo, mesmo assim, mesmo demonstrando todas sua capacidade, ainda ouço vários "eu não sei!" durante o dia.
Então pego o lápis e vou só apontando para os números, sem dizer nada, só me comunicando com indicações e olhares, sem palavras, ele fica inseguro, exita, mas responde corretamente e de novo, ao passar o lápis pra ele, diz não saber o que fez.
Hoje então decidi sair do "tá vendo fulano? você sabe!" e tentar ser um pouco mais persuasivo, disse mais ou menos assim:
- Fulano, olhe pra mim e ouve bem o que vou dizer, até agora a única coisa que eu fiz foi segurar o lápis pra você e em alguns momentos nem isso, só fiquei do seu lado assistindo....e você mostrou que sabe. O seu problema não é não saber a matéria, é ter medo de errar. Se por acaso alguém te chamar de burro, te ofender de alguma forma é papo de gente que não sabe o que tá dizendo, você é inteligente e se continuar se esforçando tem tudo pra terminar o ano com um ótimo resultado!
Ele ficou me olhando, depois abaixou a cabeça e fixou no papel...enquanto dava atenção a outro aluno lá vem ele de novo me pedir ajuda, então parei e disse para ele fazer aquela parte toda sozinho e só era pra me mostrar quando tivesse terminado, naquele momento não o ajudaria em nada, ficou meio desanimado e voltou pro lugar, minutos depois me chamou e perguntou: tá certo, professor? Estava.
Fiquei feliz por ter demonstrado um pouco de confiança e ter tido sucesso no que fez, mas infelizmente sei que voltando pra casa, dependendo dos estímulos que tiver, do que ouça dos familiares, ou às vezes do que não ouça,  pode voltar no dia seguinte do modo inicial.
Arrisco dizer que o papel da família tem um peso maior do que o da escola na formação intelectual do aluno, a criança fica no colégio por 4,5 horas por dia e todo o resto passa, ou deveria passar, em casa, com os pais, irmãos, parentes, vizinhos, colegas, um processo trabalhoso e insistente como o que tentamos realizar com eles pode não surtir o efeito desejado ou não ser tão efetivo quanto seria se os pais se interessassem mais, perguntassem sobre o dia do filho, sobre as aulas, muitos apenas desovam a criança no colégio e voltam algum tempo depois pra buscar, o que aconteceu nesse meio tempo? Não interessa.
Continuo, apesar das decepções, ciente da minha função e sabendo até aonde posso ir e aonde não alcanço. Reclama-se da política, da violência, da saúde e da educação, nesse último estou aprendendo que há sim falta de infraestrutura e investimento por parte do governo, mas também muito reflexo do valor que a sociedade atribue e enquanto a devida importância não for dada, muito além da autoestima será derrubado.

2 comentários:

Fernanda Oliver disse...

Estou passando para parabenizar pela sua iniciativa, registrar esses momentos vai ser de grande valia tanto para você, quanto para nós, seus amigos ou desconhecidos, concerteza ao lermos seus registros, poderemos perceber mais claramente o que nos espera lá fora, todos achamos que sabemos o que de fato acontece, mas a realidade é terrível e assustadora, o sentimento em nós é de impotência a todo momento.
Penso que nesses momentos a melhor coisa a se fazer é acreditar muito em nossa capacidade e nosso potencial, para fazer com que jamais desistamos desses pequeninos tão esquecidos por nossos governantes, afinal eles não precisam de + um para dizer que eles não podem!!!
Fé!!Bjão!!!!!

Jacqueline disse...

Diego,

Concordo com você quando menciona que o papel da família é fundamental na educação, além de ótimos profissionais e infraestrutura. Acredito sobretudo que mesmo não tendo tempo para acompanhar os filhos, os responsáveis tem o dever de mostrar-lhes o tempo todo como são amados.

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