quarta-feira, 2 de junho de 2010

2ª Prova de Choque

[15º Dia!]
Mais um dia sozinho com a turma. Hoje me preparei mais e bolei várias atividades para ter várias cartas na manga pra uma possível eventualidade. Não foi necessário.
Comecei explicando pra eles mais uma vez a importância daquela turma, que mesmo com o pé ruim fui lá pra não deixá-los na mão, enfim disse tudo aquilo que eles nunca ouvem.
Comecei a aula com a análise da música "Desabafo" do Marcelo D2, que trata das opiniões do cantor sobre a violência e as injustiças do cotidiano. Eles sempre reclamam de serem infantilizados, então levei uma música mais atual, um rap, que embora seja do D2 não tem nenhuma apologia a drogas, nem palavrões.
Eles foram receptivos, usei a letra também para discutir várias questões sociais com eles, o que era um desabafo, o que motivava a violência no Rio de Janeiro e, se pudessem, como a resolveriam.
Depois, aproveitando o gancho das aulas da professora que está usando poesias, perguntei qual eram as diferenças e semelhanças entre uma música e um poema, características como: verso, rima e métrica. Embora eles não associem muito bem a nomeclatura dos termos, sabiam os conceitos muito bem. Fechei essa atividade pedindo que encontrassem algumas palavras chaves e destacassem.
Até ai já era se foi quase 1 hora. Estavam muito agitados, gritando, se batendo, reclamando de tudo o tempo todo, em certo momento a coordenadora teve que ir a sala pedir para que ficassem quietos. O frustrante é que embora você se prepare muito para trazer algo dinâmico e educativo que ajude-os, as chances de que reconheçam seu esforço são próximas de nula.
Não tive a paciência maternal que a professora tem com eles, pelo contrário, durante as bagunças fui o mais seco possível na postura. Uma aluna deu um ataque de pirraça, algo assim:
- Não vou copiaaar nadaaaa!
- Fulana, você copia se quiser. Não sou seu pai, nem você é criança pra ficar fazendo pirraça aqui, se está insatisfeita, mete o pé, cai fora da sala!
- ...

Percebi que expressões como "mete o pé", "fica na moral", "para de sacanagem" os desestabiliza um pouco por não estarem acostumados a ouvirem um professor falar assim, na verdade eu não falo assim no dia a dia, mas lá tento passar a ideia nas broncas de forma direta, sem muita enrolação.
Depois da música, segui em matemática. Passei contas de multiplicação, porque contas "de mais" e "de menos" eles já sabem bem. Passei a família do x1 e do x2, muitos encontraram dificuldades em contas como "1 x 0", mas com esforço a maioria entendeu, copiou tudo e alguns foram no quadro fazer a correção. Muitos reclamaram, de novo, mas acabaram indo. Liberados para o recreio após a correção, pude enfim respirar.

[Recreio]

Na volta passei uma tarefa rápida. Fiz uma espécie de bingo de palavras, cada um tinha uma folha com umas quinze palavras, fiz cópias diferentes para quase todos, de modo que não podiam colar do colega porque tinham as mesmas palavras. Disse que não escreveria nada no quadro, apenas falaria, teriam então que prestar atenção e os 2 primeiros que marcassem toda a folha, ganhariam um chocolate (que comprei numa lojinha perto do colégio).
Incrível como quando tem alguma recompensa envolvida, por mais banal que seja, eles sempre se esforçam mais. Todos fizeram, ficaram atentos as palavras, até a aluna revoltada que não faria nada ficou acompanhando pela folha da colega. Cortei ela de novo, perguntei a turma como tava indo a marcação das palavras e ela gritou lá de trás "eu não vou fazerrrrr!!!!", e eu respondi "não estou falando contigo. é só com quem tá interessado." A turma ficou num silêncio constrangedor pra ela, que fechou a cara resmungou alguma coisa e não respondeu mais até o fim do dia.
Terminando, todos liberados, eu dei uma arrumada na sala e fui também.
Ouvi de uma aluna " a aula dele é muito chata". Talvez no começo ficasse chateado , mas a essa altura vejo que o ser aluno tende a ser do contra em qualquer situação e quando é confrontado em sua posição de conforto, é posto pra pensar fora da caixa, isso o incomoda e ele se revolta. Continuo fazendo o melhor , feriadão ai, 4 dias de descanso, muito estudo paras as provas da faculdade que estão apertando e a vida segue.
Foto: Filme Ao Mestre com Carinho. Dar aula não é tão fácil quanto o Sidney Poitier fez parecer.

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